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Sérgio Benevides Filho, falou, com exclusividade para o portal Trends, sobre os desafios, projeções e a realidade da produção de algodão. (Foto Arquivo Pessoal)

“O Brasil está preparado para ser o maior produtor e exportador mundial de algodão”, afirma Sérgio Benevides Filho

Por: Paulo André Sales e Kérlya Chaves | Em:
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No final de 2022, o Brasil pretendia se tornar o maior produtor de algodão do mundo devido a um aumento na área plantada, superando assim os Estados Unidos (EUA). O setor brasileiro dizia estar preparado para avançar com a produção em 2023, apesar dos custos mais altos, para não perder os mercados da Ásia, que importa 99% da produção brasileira. 

Unindo sustentabilidade, tecnologia e qualidade, o algodão brasileiro vem se mostrando altamente competitivo, ganhando cada vez mais força entre os compradores internacionais.

O gerente de Compras de Algodão da Companhia Valença Industrial na Bahia e da Têxtil União no Ceará, Sérgio Benevides Filho, falou, com exclusividade para o portal Trends, sobre os desafios, projeções e a realidade da produção de algodão no Brasil.

Trends: Quais são os principais desafios que os produtores de algodão enfrentam no Brasil atualmente?

Sérgio Benevides Filho: A falta do crescimento da demanda mundial de algodão. O Brasil tem a maior produtividade de algodão de sequeiro (sem irrigação) e mecanizado mundo, com quase 350@/hectares, contra 150@/hectares dos Estados Unidos. A Índia e China são os líderes de produção e consumo mundial, no entanto, possuem minifúndios familiares. E os Estados Unidos são o terceiro em produção em função de grandes subsídios do governo americano, e ainda é o líder de exportação. A exportação mundial de algodão deve cair 10,31% nesta safra, chegando somente em 8,61 milhões de toneladas

Apesar de ser o quarto maior produtor do mundo e o segundo maior exportador, o Brasil é o país com maior capacidade de crescimento da produção de algodão entre seus concorrentes a curto prazo, sobretudo no Mato Grosso, com a safrinha após a safra de soja.

Nesta safra de 2023, o Brasil vai colher 3 milhões de toneladas de pluma, o equivalente a 12% da produção mundial, e tem que exportar cerca de 2,3 milhões de toneladas de algodão, em função do consumo interno de 700 mil toneladas. Na safra passada, em função da recessão mundial, o país conseguiu exportar somente 1,5 milhão de toneladas. 

Trends: Como as mudanças climáticas afetaram a produção de algodão e quais são as estratégias adotadas para lidar com essas mudanças?

Sérgio Benevides Filho: 90% da área plantada no Brasil é de sequeiro, sem irrigação. Para isso, os estados líderes na produção, como o Mato Grosso, que representa 70% da produção brasileira, seguido pela Bahia com 20%, já sabem a janela de plantio (meses que devem plantar e colher) devido ao histórico regime pluviométrico. Com o El Niño e a La Niña, ocorrem excessos ou falta de chuvas em alguns anos, no entanto, na média, as produtividades têm sido boas. Porém, as sementes geneticamente modificadas para estas alterações climáticas (falta ou excesso de chuva) estão cada vez mais adaptadas para estas variações.

Trends: A escassez de recursos hídricos é um problema crescente em várias regiões do Brasil. Como os produtores de algodão estão enfrentando esse desafio?

Sérgio Benevides Filho: O Cerrado brasileiro foi o melhor habitat para o algodão desenvolvido neste país até hoje. A característica do solo, relevo e pluviometria fazem desta região destaque mundial. Relembrar o algodão plantado no Ceará, no Sertão Central (Quixadá, Quixeramobim,  Mombaça, Senador Pompeu e etc.) nos anos 60 e 70, com 10% da produtividade do algodão plantado hoje do Cerrado da Bahia e do Mato Grosso, é querer viver de uma nostalgia melancólica e sem sentido. Hoje estão tentando desenvolver algodão no Ceará, na Chapada do Apodi, com irrigação, numa área plana. Vamos esperar alguns anos para tirar as conclusões. Aparentemente, parece bom. No entanto, acho difícil ter as mesmas produtividades do Cerrado brasileiro. Assim respondendo sua pergunta, com irrigação, os produtores rurais enfrentam este desafio. Na Bahia, com o preço da terra cada vez mais valorizado, quase R$ 80.000/hectare em área produtiva, muitos produtores estão partindo para irrigação para fazer safra em regime de sequeiro e safrinha (2ª safra no mesmo ano no mesmo solo) com irrigação, pois eles sabem que fica fora da janela de chuva.

T: Como a tecnologia e a digitalização têm sido utilizadas para melhorar a produção de algodão?

SBF: Até o final de 1980, o algodão brasileiro era todo plantado e colhido manualmente. Tarefa essa que empregava muitos, no entanto não tinha competitividade com os americanos e com os australianos. Os chineses e indianos até hoje plantam e colhem manualmente, em função de serem minifúndios com no máximo cinco hectares. Com a tecnologia das plantadeiras e colheitadeiras automatizadas o custo reduziu muito, tanto no tempo de plantar como, sobretudo, no de colher. 

Com a tecnologia das sementes geneticamente modificadas, para enfrentar algumas pragas e adaptar às variações climáticas, a produtividade vem aumentando anualmente. 

E com os softwares de agricultura de precisão, que fazem o controle de produtividade por hectare, o produtor rural tem o controle com acuracidade de todos os fertilizantes, defensivos e herbicidas, que colocou por hectare, qual semente, quantidade de calcário e NPK, isto é, todo custo variável versus a produtividade em cada hectare. Com isso, as informações sobre que produtos e quantidades aplicar na lavoura para a próxima safra fica mais perto do real. 

Além disso, os drones com capacidade de fazer pulverizações, que antes eram realizadas por aviões com custo mais caro, estão sendo cada vez mais implantados. 

Com o georreferenciamento por satélite das lavouras de algodão, soja e milho, com a tecnologia 5G entrando no campo, estima-se que os maquinistas de plantadeiras e colheitadeiras serão substituídos por máquinas autônomas. Além disso, estas máquinas deverão ser elétricas no futuro e deverão carregar de noite para trabalhar de dia. O agronegócio brasileiro é o mais desenvolvido no mundo e está em plena transformação.

T: Como a infraestrutura de transporte afeta a cadeia de produção do algodão e quais são as demandas para melhorar essa situação?

SBF: O custo do frete brasileiro ainda é o mais caro do mundo. 100% da produção brasileira de algodão é escoada para as indústrias nacionais e para o Porto de Santos para exportação via rodoviária. As estradas de acesso às fazendas ainda são muito ruins, com mão única, sem ponto de ultrapassagem e os acidentes na maioria das vezes são fatais.

Os portos têm melhorado muito sua logística interna e tempo de embarque. Em 2021, por exemplo, o mundo duvidava de nossa capacidade de escoamento, e como a economia depois da pandemia estava aquecida, conseguiu-se exportar 2,4 milhões de toneladas de algodão, destas, 90% pelo Porto de Santos.

De forma que o gargalo hoje é o tempo da saída da fazenda até o Porto, que se tivesse ferrovias pela rota do algodão ou rodovias duplas, poderia ser reduzido o preço e o tempo.

T: O uso de agrotóxicos é um tema controverso na agricultura. Como os produtores de algodão estão lidando com as preocupações crescentes sobre a sustentabilidade ambiental?

SBF: Primeiramente, é importante ressaltar que, assim como nós humanos, que só tomamos remédio para prevenir e combater uma doença, o agricultor faz o mesmo com a cultura do algodão e outras culturas. Ele jamais iria querer gastar mais de US$ 400,00/hectare ou até US$ 700,00, com defensivos agrícolas em cada safra. No entanto, ele é obrigado a fazer. O bicudo que exterminou o algodão cearense na década de 80 ainda hoje existe e precisa ser combatido com 12 a 20 pulverizações por safra. Caso contrário ele destrói a lavoura. A helicoverpa é outra grande praga concorrente do bicudo, que precisa ser combatida na cultura do algodão. A mosca branca e o pulgão também. A boa notícia agora é o desenvolvimento dos defensivos biológicos, que em resumo é praga comendo praga. Atualmente, o Brasil é uma referência mundial na utilização de defensivos agrícolas biológicos no campo. Ao todo, são 552 produtos de baixo impacto registrados desde o ano 2000. Os produtos considerados de baixo impacto possuem ingredientes ativos biológicos, microbiológicos, semioquímicos, bioquímicos, extratos vegetais e reguladores de crescimento, podendo ser autorizados em vários casos na agricultura orgânica.

Esses produtos são importantes para agricultura não apenas pelo impacto toxicológico e ambiental, mas também por beneficiar as culturas de suporte fitossanitário insuficiente (minor crops), pois esses produtos são registrados por pragas e não por cultura, como acontece com os químicos. Com o registro desses sete novos produtos, já somam 43 produtos de baixa toxicidade para o controle de pragas registrados em 2022.

T: Quais são os principais desafios na comercialização do algodão brasileiro, tanto no mercado interno quanto no mercado internacional?

SBF: O aumento da demanda mundial, visto que o Brasil é o líder mundial em produtividade, qualidade e sustentabilidade. O Brasil representa 65% do algodão BCI no mundo. O algodão BCI, ou Better Cotton Initiative, é uma ONG (organização sem fins lucrativos), com sede em Genebra, Suíça, criada em 2005. A BCI existe para ajudar a melhorar a produção mundial do algodão para aqueles que o produzem, para o meio em que é cultivado e para o futuro do setor têxtil. O que é algodão certificado?

A certificação BCI tem como meta o cultivo sustentável do algodão. Seus principais objetivos são a redução do uso de água, melhora nas condições de trabalho e transparência em toda cadeia produtiva. O controle do algodão BCI é feito via plataforma de transferência de créditos de um fornecedor para outro.

T: A adoção de práticas de agricultura sustentável e certificações, como o programa Algodão Brasileiro Responsável (ABR), têm crescido. Quais são os impactos dessas iniciativas e quais os desafios em sua implementação?

SBF: O Programa Algodão Brasileiro Responsável (ABR) nasceu em 2012 nos moldes de duas importantes iniciativas socioambientais da cotonicultura: o Instituto Algodão Social (IAS), criado em 2005 pela AMPA com o objetivo de organizar e fortalecer a atuação socioambiental dos produtores do Mato Grosso; e o Programa Socioambiental da Produção de Algodão (Psoal), lançado pela Abrapa e suas associadas em 2009, expandindo o conceito da sustentabilidade na cotonicultura para o âmbito nacional.

O ABR foi a junção dos protocolos desses dois programas bem-sucedidos, com ampliação das bases de avaliação, aprimoramento do processo de certificação das unidades produtivas e incorporação de critérios de ordem ambiental. Antes, contudo, em 2010, a cotonicultura sustentável barasileira, então sob o guarda-chuva do Psoal, havia ganhado reforço internacional com a chegada ao Brasil da Better Cotton Initiative – BCI, uma entidade de ação global que tem como missão melhorar a produção de algodão no mundo, lastreada nos princípios socioambientais e com foco no retorno dos investimentos ao produtor. 

Assim como a BCI, o ABR tem como alicerce o incremento progressivo das boas práticas sociais, ambientais e econômicas nas unidades produtivas de algodão. Essas práticas são rigorosas no que tange o cumprimento das leis nos aspectos sociais, ambientais e trabalhistas, sendo verificados 224 itens em um check list junto aos produtores de algodão do Brasil.

T: Quais são as oportunidades de mercado para o algodão brasileiro e como os produtores estão se preparando para aproveitá-las?

SBF: O Brasil está preparado para ser o maior produtor e exportador mundial de algodão, caso as exigências de sustentabilidade aumentem no mundo, facilmente o Brasil ultrapassará os Estados Unidos na exportação, e por ter mais produtividade e qualidade também. Em resumo, a produção de algodão brasileiro é um case de sucesso mundial

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