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Nos últimos dois anos, a cajuína passou a agradar o paladar do público internacional. Juntos, Estados Unidos e França representam mais de 70% dos consumidores de fora. FOTO: Freepik

Cajuína cearense é exportada e agrada paladar internacional

Por: Anchieta Jr. | Em:
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A castanha é o seu produto mais importante. Afinal, ocupa a quarta colocação na pauta de exportações do Ceará. Contudo, o trabalho que vem sendo desenvolvido junto à cadeia produtiva do caju tem apontado na direção de resultados promissores para a economia estadual. Com o uso do conhecimento e da tecnologia, assim como da adequada promoção comercial, alguns subprodutos do caju começam a alçar voos mais altos. Nos últimos dois anos, a cajuína, por exemplo, passou a agradar o paladar não só dos nordestinos, mas também do público internacional.


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Foram quase US$ 20 milhões exportados pelo Ceará entre os anos de 2019 e 2020, e tudo isso sem o Estado ter a menor tradição em vender internacionalmente o produto. Juntos, Estados Unidos (EUA) e França representam mais de 70% dos consumidores de fora, com US$ 10,9 milhões e US$ 4,2 milhões comprados, respectivamente, dos produtores locais. “Na verdade, para ter mais apelo internacional, a cajuína vendida ao exterior ganhou o nome de suco de caju clarificado”, explica Karina Frota, gerente do Centro Internacional de Negócios (CIN) da Federação das Indústrias do Ceará (Fiec).

De acordo com ela, a internacionalização da cajuína cearense é resultado do trabalho do CIN em parceria com o Sindicato das Indústrias de Alimentação do Estado (Sindialimentos), filiado à Fiec, na promoção de produtos típicos do Ceará, inicialmente, em uma grande rede de varejo no mercado europeu. “Entre os anos de 2018 e 2019, realizamos pesquisas e prospecção de mercado, capacitamos as empresas para inserção no mercado internacional, assim como participamos de feiras no exterior, o que resultou, então, na primeira exportação da cajuína cearense para uma grande rede de varejo europeia”, revela.

Nesse ínterim, emenda Karina, os produtores também tiveram que atender às exigências do mercado exterior, fazendo as adequações necessárias, como a padronização do produto, ajuste de volume e frequência de produção.

“Vale destacar ainda a certificação do suco de caju clarificado como um produto 100% orgânico, natural e saudável, a fim de gerar maior valor agregado e apelo de consumo lá fora, acompanhando, assim, a adoção cada vez maior de um estilo de vida mais saudável em todo o mundo”

Karina Frota, gerente do Centro Internacional de Negócios da Fiec

Conforme disse, devido à natureza do produto, a internacionalização da cajuína não foi um processo rápido, entretanto foi “extremamente planejado”, seguindo as etapas e adequações, levando, por sua vez, à uma inserção assertiva no mercado exterior.

Padronização da cajuína

No processo de adequação da cajuína para ser vendida no mercado internacional, aponta Genésio Vasconcelos, supervisor do Setor de Prospecção e Avaliação de Tecnologias (SPAT) da Embrapa Agroindústria Tropical, subsidiária da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) no Ceará, a padronização do produto foi o principal desafio.

“Por ser um produto bastante típico dos estados do Ceará e Piauí e uma bebida notadamente artesanal, a cajuína tem características bem peculiares de quem a faz, o que pode mudar a coloração e o sabor. Porém, quando falamos de um mercado consumidor que não tem o caju como um alimento da sua rotina a situação se modifica. Lá fora não se conhece o pedúnculo do caju, de onde se extrai a cajuína, apenas a castanha. Além disso, consumir um produto que até então não tinha um padrão de apresentação e sabor, como a cajuína, o mercado não absorveria”, justifica.

Desse modo, ele fala que a solução veio com a modificação do processo de produção, especialmente da filtragem do suco extraído do caju, antes totalmente manual e artesanal, quando recebia a adição de componente animal (gelatina) e, em seguida, passava por um cozimento, a fim de adquirir a coloração que conhecemos.

“Nesse sentido, a Embrapa desenvolveu uma tecnologia de microfiltração, por meio de uma membrana e sequência de tubos, eliminando a etapa de adição do componente animal para filtragem, garantindo um produto 100% vegetal, padronizando o processo de industrialização, assim como conferindo escala para a cajuína ou suco de caju clarificado. Em suma, todo o processo se tornou mais asséptico”, explica.

Uma vez resolvida a questão da padronização do produto, complementa Vasconcelos, o próximo passo foi diversificar o envaze. “Tornar o processo de envaze mais versátil também seria uma garantia de escala na produção da cajuína. Assim, da garrafa de vidro, passou-se a utilizar também a lata de alumínio, a embalagem cartonada e ainda as mini e big bags (bolsas plásticas grandes e pequenas), estas para comercialização em maiores quantidades”, expõe.

Segundo Vasconcelos, o desenvolvimento e adoção dessas novas tecnologias na industrialização da cajuína atendeu aos requisitos para exportação, no caso padronização, volume e frequência de produção, sem perder as características sensoriais e nutricionais da bebida original. Um último passo em direção ao mercado internacional foi conferir à cajuína um selo orgânico, dentre outras certificações, garantindo um produto totalmente natural.

“A cajuína, ou suco de caju clarificado como batizamos lá fora, está sendo vendida, agora, como uma bebida funcional, de sabor suave, cor translúcida, 100% vegetal e orgânica e com alto teor de vitamina C, o correspondente a 533% do Valor Diário Recomendado. E a tendência é que o seu consumo continue a crescer”

Genésio Vasconcelos, supervisor de Prospecção e Avaliação de Tecnologias da Embrapa

Pioneirismo

A primeira empresa cearense a adotar melhores práticas na produção de cajuína e sua industrialização foi a Natvita, que procurou a Embrapa, ainda em 2007, a fim de ajudar nesse processo, obtendo em 2012 a certificação de produto orgânico, natural e sem adição de açúcares e conservantes. Contudo, a venda do produto ao exterior só começou cerca de três anos depois.

“Nós iniciamos um trabalho entre 2014 e 2015, enviando um container de suco clarificado de caju para a Polônia. Porém, por motivos diversos, principalmente de planejamento do comprador, o produto não obteve a saída esperada. Em seguida, por volta de 2018, enviamos dois containers para a França, onde o cliente está executando uma série de testes e aceitação junto ao mercado europeu para colocar à venda um produto de qualidade e alta aceitação. O projeto estava em fase de conclusão, porém foi parado com a pandemia”, relata Roberto Castelo Branco, diretor comercial da Natvita.

Além desses países, ele ressalta que a cajuína cearense também tem sido exportada para os Estados Unidos, Portugal e Alemanha. “Nos EUA a compra foi spot e em Portugal por meio de uma rede local com sete lojas pelo país. Porém, com a pandemia também teve uma parada”. Por outro lado, no que se refere à Alemanha, ele destaca que continuamos a vender, atendendo dois clientes.

“A cajuína, por não ser vendida em quantidade elevada, ainda é exportada por modal aéreo para facilitar o envio. No entanto, se o Porto do Pecém realmente implantar a disponibilidade de containers compartilhados, pelo menos os secos, isso vai ajudar a aumentar”

Roberto Castelo Branco, diretor comercial da Natvita

De acordo com Castelo Branco, a fábrica está localizada no município de Palhano, no Interior do Ceará, emprega aproximadamente 40 pessoas e o caju é comprado de produtores da região.  No momento, cerca de 1% do faturamento vem da exportação da cajuína. “A Cajuína ainda é um produto totalmente desconhecido no exterior, para ser mais exato, ela é desconhecida até aqui dentro do Brasil, fora do Ceará e do Piauí. Para que se torne conhecida será necessário um trabalho desenvolvido com divulgação e degustações”, pontua.

Entretanto, ele não descarta a expansão de mercado para a bebida. “Será um longo trabalho a ser percorrido, que com insistência conseguiremos formar um público consumidor para este produto que tem como principal qualidade, além do delicioso sabor e de ser altamente refrescante, o alto índice de vitamina C, por via natural, saudável, sem adição de açúcar e sem conservantes”, afirma. De fato, tanto Genésio Vasconcelos, da Embrapa Agroindústria Tropical, como Karina Frota, do CIN, também acreditam no maior espaço que a cajuína possa ter nos mercados doméstico e internacional.

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