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De acordo com o relatório do IPCC, na Amazônia, as mudanças climáticas e ações humanas como o desmatamento e a mineração podem alterar, até mesmo, o bioma do local. (Foto: Freepik)

Amazônia e Região Nordeste ameaçadas pelas mudanças climáticas

Por: Karine Nascimento | Em:
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Durante a Rio+20, Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, realizada no Rio de Janeiro, em 2012, um relatório do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC) apresentou a Amazônia e a Região Nordeste como duas das áreas mais suscetíveis às mudanças do clima no Brasil. Dez anos depois, um estudo do Grupo de Trabalho II do Painel de Mudanças Climáticas da Organização das Nações Unidas (IPCC) reacendeu o alerta.


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“O relatório analisa a capacidade dos sistemas socioeconômicos e naturais para se adaptarem às mudanças climáticas e, assim, reduzirem os riscos associados ao clima”, explica Paulo Artaxo, professor da Universidade de São Paulo (USP) e um dos autores do estudo, através de um artigo publicado no Estadão.

Segundo o estudo, na região Nordeste, “um aumento previsto na seca, juntamente com práticas inadequadas de manejo do solo, aumenta a suscetibilidade da região à desertificação”. Por esse motivo, já existe uma área de cerca de 70.000 km2 onde a agricultura não é mais viável. Além disso, também há uma preocupação com as espécies endêmicas – que, pela definição, são aquelas que só ocorrem em determinada região. Mais de 200 espécies de peixes de água doce, por exemplo, podem estar ameaçadas em razão da redução da vazão dos rios e das mudanças climáticas.

Ainda de acordo com o relatório do IPCC, na Amazônia, as mudanças climáticas e ações humanas como o desmatamento e a mineração podem alterar, até mesmo, o bioma do local. A floresta tropical pode virar uma savana, e há o risco de, ao invés de sumidouro de carbono, o espaço virar uma fonte – ou seja, a Amazônia passaria a emitir mais CO2 do que pode absorver. Outro risco diretamente envolvido também é a perda da biodiversidade.

“No caso da Amazônia, as alterações climáticas contribuirão para o aumento dos incêndios florestais e das doenças respiratórias. No Nordeste, a tendência de secas mais intensas e frequentes causa prejuízos nas atividades agrícolas, com consequente diminuição da oferta de alimentos e aumento do preço dos produtos”, explica Maria Elisa Zanella, professora do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC).

Apesar de as projeções consideradas mais preocupantes serem apontadas para as áreas citadas, a professora lembra que as consequências também podem ser sentidas em outros pontos do país. Com a redução das chuvas no Norte, o corredor de umidade que existe entre a região e o Sudeste também é impactado, contribuindo para a diminuição da umidade no Sudeste e causando secas e estresse hídrico, por exemplo.

Maria Elisa também pontua que as mudanças climáticas são responsáveis por, além de reduzir a quantidade de chuvas, provocar um desequilíbrio no regime pluviométrico, concentrando a precipitação em intervalos de tempo menores. “Embora haja redução das chuvas, os eventos extremos se intensificarão e se tornarão mais frequentes. Isso acontece inclusive com as chuvas, aumentando os desastres naturais associados às inundações e aos deslizamentos de encostas”.

“O relatório aponta que os riscos e as vulnerabilidades de nosso sistema socioeconômico são enormes, particularmente para a população mais carente e que vive em regiões de risco climático”, explica, em artigo publicado no Estadão, o professor e um dos autores do estudo, Paulo Artaxo.

“Nas cidades, o problema maior está associado aos eventos extremos de chuva, tendo em vista que grande parcela da população vive em condições socioeconômicas muito precárias, ocupando áreas de risco. Tanto no Nordeste como na Amazônia há muitas populações habitando áreas de planícies de inundação de rios, lagoas e encostas íngremes, que, por ocasião de eventos extremos, são frequentemente submetidas a seus impactos”, complementa a professora da UFC Maria Elisa Zanella.

Além da questão social, as mudanças climáticas estudadas também afetam de forma direta a economia. “Podem ser citadas muitas consequências econômicas da alteração dos recursos hídricos, por exemplo. É mais comum falar sobre a estiagem na zona rural, mas a má distribuição das chuvas e os chamados eventos extremos também impactam a economia ao afetar a infraestrutura das cidades. Eles interferem em diversos setores, como deslocamento e moradia, e, em geral, causam custos”, aponta Silvana Parente, presidente do Conselho Regional de Economia Ceará (Corecon).

“No caso da região Nordeste, um aspecto que também deve ser considerado é o aumento do nível do mar. Com exceção de Teresina, as demais capitais se encontram na zona costeira e sofrerão os impactos do aumento do nível dos oceanos demandando maiores investimentos em infraestrutura e gastos excessivos em adaptações a tais mudanças”, acrescentou Maria Elisa.

Geração de energia como peça-chave

Outro ponto citado pelos profissionais ouvidos pela TrendsCE é como o modelo de geração de energia no país é impactado pelas chuvas, tornando-o dependente dos fatores climáticos. Em 2020, o portal oficial do Governo Federal divulgou que a energia gerada através de usinas hidrelétricas corresponde a 63,8% da matriz energética brasileira.

Por isso, uma possível mudança na matriz, privilegiando energias como a solar e a eólica, pode ser o ponto de partida de um ciclo benéfico: tanto reduziria a dependência atual dos recursos hídricos, como, aumentando o uso de energias consideradas limpas, possibilitaria a diminuição dos eventos geradores das mudanças climáticas.

Artur Bruno, titular da Secretaria do Meio Ambiente do Ceará (Semace), garante que o Estado tem acompanhado os estudos divulgados pelo IPCC e as discussões da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, que ocorreu em 2021. “A COP 26 definiu que até 2100 a temperatura média global só pode subir 1,5º. Nós já estamos em 1,1º, e o Brasil tem um papel decisivo em relação a isso. São necessários passos como a maior preservação das florestas e a mudança da matriz energética, com diminuição dos combustíveis fósseis e a busca por energias alternativas como solar e eólica, além do hidrogênio verde, que é outra grande alternativa para os próximos anos, onde o Ceará é referência nacional”.

“O Ceará assinou um decreto delimitando que até 2030 vai reduzir 50% da presença de gases de efeito estufa na nossa atmosfera, e, até 2050, a ideia do estado é descarbonizar. Esse deve ser um objetivo não apenas local, mas global”, destaca o secretário.

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