Mesmo com os impactos causados pela pandemia, como a grande instabilidade econômica no Brasil e no mundo, as incertezas parecem não ter afetado tanto o mercado imobiliário de Fortaleza e Região Metropolitana. Segundo levantamento do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado do Ceará (Sinduscon-CE), o setor registrou crescimento de 5% no acumulado do ano que passou e segue animado em relação ao primeiro trimestre de 2021. Mesmo sem os números dos três primeiros meses do ano consolidados, o diretor de Estatística do Sinduscon-CE, Sérgio Macedo, aponta que a tendência do mercado como um todo é de crescimento.
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“A projeção do mercado para 2021 é de que o segmento Minha Casa Minha Vida (MCMV) deva crescer na média de 5% a 10%, com a venda de 300 a 350 unidades por mês. Porém, o crescimento maior vai ser impulsionando pelos imóveis de médio e alto padrão, que deverá continuar repetindo o avanço dos últimos dois meses de 2020, quando foram vendidas 200 unidades por mês, retomando, dessa forma, a realidade de 2015 e 2016, depois de vários anos de crise”
Sérgio Macedo, diretor de Estatística do Sinduscon-CE
Sentimento corroborado por Tibério Benevides, presidente do Conselho Regional dos Corretores de Imóveis do Ceará (Creci-CE). Apesar de a entidade, assim como o Sinduscon-CE, ainda não ter o saldo das vendas do primeiro trimestre do ano contabilizado, a expectativa é de que, na comparação com igual período de 2020, o crescimento deva ser maior. Ele afirma que o Creci-CE registrou o volume de vendas 13% superior no acumulado de 2020 ante 2019.
Ainda de acordo com Benevides, diante da expectativa para o primeiro trimestre deste ano, o Creci-CE espera um volume crescente de vendas em 2021, resultando em um aumento entre 11% e 15% ao fim do ano na comparação com 2020.
Na avaliação de Sérgio Macedo, os lançamentos previstos para 2021, assim como as baixas taxas de juros para o financiamento imobiliário serão os principais responsáveis pelas vendas do setor em Fortaleza e Região Metropolitana.
“Para o consumidor, hoje, investir no mercado imobiliário talvez seja o melhor negócio, porque temos uma taxa de juros muito baixa no Brasil. Tanto para quem vai morar ou investir. Para quem quer investir a taxa de retorno do aluguel está melhor do que qualquer aplicação no mercado financeiro. Já para quem vai morar, é o momento de comprar também por conta da taxa de juros. Se fizermos a conta veremos que as parcelas de financiamento têm apresentado uma redução substancial”, afirma.
O diretor do Sinduscon-CE refere-se ao patamar da Taxa Básica de Juros da economia, a Selic, atualmente em 2,75% ao ano, o que se reflete positivamente nas taxas de financiamento imobiliário ao consumidor final. Quanto aos lançamentos, Macedo fala que no segmento MCMV a projeção é de que sejam lançadas 3.500 unidades em 2021, enquanto entre os imóveis de médio e alto padrão tenham-se em torno de 1.500 novas unidades colocadas no mercado.
A BSPAR Incorporações, por exemplo, uma das maiores construtoras de Fortaleza, aposta em três grandes lançamentos para este ano. “Embora ainda não tenhamos o fechamento do primeiro trimestre de 2021, nossa expectativa é bastante positiva, por isso, acreditamos em um ano muito bom. Temos três lançamentos previstos para este ano, cujos projetos já estão em desenvolvimento. São imóveis com maior valor agregado, resultando em produtos diferenciados e com localização privilegiada. De acordo com uma pesquisa de mercado que realizamos, a demanda existe e estes lançamentos chegarão ao mercado à medida que a procura for se confirmando”, expõe Renata Santos, superintendente de vendas da BSPAR.
Para Sérgio Macedo, do Sinduscon-CE, a tendência de vendas do mercado imobiliário em Fortaleza e Região Metropolitana em 2021 serão os imóveis de médio e alto padrão, com destaque para os de pequeno porte. No entanto, conforme Tibério Benevides, do Creci-CE, apesar da busca crescente por imóveis compactos, puxada por pessoas que vêm estudar em Fortaleza, recém-casados e idosos que querem passar para moradias menores, a pandemia tem motivado a demanda por mais espaço.
“Nos últimos 15 meses, principalmente com essa pandemia, por passarem mais tempo em casa, as pessoas estão querendo mais espaço, como condomínios com apartamentos maiores, não só com área de lazer. Os condomínios de casas também vêm sendo procurados”
Tibério Benevides, presidente do Creci-CE
Renata Santos, da BSPAR, ressalta que as pessoas estão buscando por uma melhor qualidade de vida, o que se reflete na moradia, buscando mais conforto no lar. “Elas estão olhando para os imóveis como bens de maior valor agregado, assim como investimento”, comemora. Ainda de acordo com a executiva, o que vem mudando em 2021 é o tempo médio da jornada de compra, que caiu significativamente.
“Antes demorava 12 meses, em média, entre a decisão de compra e o fechamento do negócio pelo consumidor. Agora, essa média caiu para em torno de dois meses. As pessoas sentem a necessidade de não postergar mais”
Renata Santos, superintendente de vendas da BSPAR Incorporações
Entre as regiões mais demandadas da cidade, ela aposta na continuidade da procura por imóveis em bairros como Aldeota, Dunas e Guararapes, áreas onde a oferta de moradias é maior. “Mas também temos o Meireles e Bairro de Fátima, onde os lançamentos estão retornando”, emenda Tibério Benevides.
Segundo os especialistas ouvidos pela TrendsCE, apesar da pandemia do coronavírus, com o lockdown que afetou a maior parte da primeira metade do ano, 2020 surpreendeu o mercado imobiliário após a flexibilização da economia no Estado, no decorrer do no segundo semestre.
“Até março do ano passado, o mercado estava apontando que iria se recuperar de maneira gradual, mas, de repente, a pandemia estourou”, recorda Benevides. “Porém, após o lockdown, a partir de junho, 2020 se mostrou um ano muito bom. Tivemos uma demanda muito grande, não esperada”, complementa Renata Santos. “Com as taxas de juros mais baixas, muita gente enxergou o momento como oportuno para a compra do imóvel. O Brasil é ainda muito carente de habilitações, então o mercado imobiliário em 2020 foi muito bom”, justifica Benevides.
De acordo com levantamento do Sinduscon Ceará, ao consolidar os dados do mercado imobiliário de Fortaleza e Região Metropolitana, em 2020 foram vendidos 5.052 imóveis. Um aumento de 5% se comparado a 2019, quando foram comercializados 4.819 imóveis. Os indicadores aferidos foram comparativos de lançamentos, vendas, ofertas, distratos, preço do metro quadrado comercializado, Valor Geral de Vendas (VGV), Vendas Sobre Oferta (VSO) e dados por bairros. O resultado é fruto do monitoramento de cerca de 249 empreendimentos e 83 construtoras e incorporadoras.
O Valor Geral de Vendas alcançado em 2020, aponta a entidade, foi de R$ 1,9 bilhão. Já em 2019, esse valor chegou a R$ 2,08 bilhões. Com relação aos lançamentos, o destaque foi para os apartamentos de médio e alto padrão que tiveram um incremento médio de 325% em 2020, se comparado a 2019. No ano de 2020, foram lançadas, por mês, uma média de 98 unidades. Já em 2019, foram lançadas, em média, 23 unidades por mês.
Os maiores volumes de vendas de imóveis foram registrados nos bairros Aldeota, Parque Dois Irmãos e Messejana, em Fortaleza; e nos municípios de Eusébio e Maracanaú, na Região Metropolitana. Já o número de distratos reduziu 63% entre 2019 e 2020. Em 2019, foram ao todo 1.356 distratos. Em 2020, foram contabilizados 503. Para o presidente do Sinduscon Ceará, Patriolino Dias de Sousa, aferir todos os dados relativos ao mercado imobiliário de Fortaleza e Região Metropolitana, é de extrema importância.
“Com isso, oferecemos os subsídios necessários para que nossos associados consigam desenvolver os empreendimentos de forma mais assertiva, o que torna o mercado mais saudável”
Patriolino Dias de Sousa, presidente do Sinduscon Ceará
A taxa básica de juros da economia, a Selic, está, atualmente, em 2,75% ao ano, um dos menores níveis da série histórica. Consequentemente, os juros do financiamento imobiliário também caíram. Razão pela qual, construtoras e incorporadoras apostam nesse trunfo para incrementar as vendas e apontam que o momento é ideal para aquisição de um imóvel para morar ou investir.
“O que chama a atenção nesse cenário de mercado imobiliário aquecido é a estratégia dos bancos, o que facilitou uma taxa de juros mais barata para o financiamento imobiliário, aumentando, ao mesmo tempo, o crédito para a compra de imóveis, principalmente residenciais”
Jansen Costa, sócio-fundador da Fatorial Investimentos
Para o consultor financeiro Reinaldo Domingos, pós-doutor em Educação Financeira e presidente da Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin), os juros baixos são um atrativo para o consumidor. Porém, ao optar por adquirir um imóvel, o interessado deve saber usar o financiamento a seu favor.
“Adquirir um imóvel para sair do aluguel vale a pena se o valor da prestação estiver próximo ao que se paga de aluguel e se o consumidor tiver ao menos 20% do valor do imóvel para dar de entrada, para baratear ainda mais o financiamento”
Reinaldo Domingos, presidente da Abefin
Já no caso da aquisição de um imóvel com o intuito de investir, seja para revender depois ou manter o imóvel para obter rendimentos por meio de aluguel, Domingos esclarece que na verdade o consumidor não está investindo e sim, empreendendo.
“Isto porque se comprar o imóvel para obter um retorno financeiro em cima dele, trata-se de um tipo de empreendimento. E embora os juros baixos sejam um atrativo para este tipo de aquisição, o consumidor precisa ter em mente que enquanto não revende o bem ou este não estiver locado, ele incorrerá em despesas de manutenção, como IPTU, condomínio entre outras. Ao mesmo tempo é um ativo que se deprecia, necessitando, com o tempo, de melhorias para manter o valor de mercado. Então ele precisa ter em mente que arcará com essa conta”, expõe.
Além disso, diferentemente de outros tipos de investimentos, o imóvel não tem liquidez imediata, caso o investidor precise de caixa. “Antes de adquirir um imóvel como investimento, é preciso ter em mente a finalidade da aquisição, por quanto tempo pode-se ficar com o dinheiro imobilizado e que riscos pode-se vir a ocorrer, a exemplo da necessidade de liquidez”, destaca o presidente da Abefin.