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Desde a infância, a quadrinista cearense Brendda Maria era apaixonada por tirinhas de jornal. Assim começou a sua relação com as histórias em quadrinhos, as famosas HQs. Em 2014, iniciou na produção desse universo trabalhando como colorista em um projeto da Universidade Federal do Ceará (UFC). Foi nesse momento que passou a considerar a possibilidade […]

Mercado de quadrinhos tem potencial para estimular economia criativa

Por: Maria Babini | Em:
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Desde a infância, a quadrinista cearense Brendda Maria era apaixonada por tirinhas de jornal. Assim começou a sua relação com as histórias em quadrinhos, as famosas HQs. Em 2014, iniciou na produção desse universo trabalhando como colorista em um projeto da Universidade Federal do Ceará (UFC). Foi nesse momento que passou a considerar a possibilidade de criar as próprias obras. “Em 2015, eu publiquei dois quadrinhos no mesmo ano. A partir daí, nunca mais parei. Em 2019, lancei o ‘Cais do Porto’, que é o meu quadrinho mais recente, e agora estou trabalhando em uma nova história chamada ‘Apartamento 501’. Todas as minhas obras se passam em Fortaleza”, conta a autora, que foi indicada com “Cais do Porto” à categoria “Novo Talento/Desenhista” da 32ª edição do Troféu HQMIX, considerado uma espécie de “Oscar das histórias em quadrinhos”.


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Segundo PJ Brandão, professor universitário, podcaster e pesquisador de quadrinhos, nos últimos anos houve um aumento na produção de HQs no Brasil e o Ceará também mergulhou nessa onda. O Estado, inclusive, já nas décadas de 80 e 90, tinha uma produção potente na área, principalmente com a criação da Oficina de Quadrinhos da UFC, que precisou ser realizada na modalidade online em 2020 por conta da pandemia.

“Com esse projeto, nós temos um grande grupo de pessoas formadas para produzir quadrinhos, mas também para pensar quadrinhos academicamente. Os quadrinhos estão se tornando cada vez mais visados, como frutos de um produto criativo e economicamente viável. No Brasil inteiro, eu acredito que existem pouquíssimas pessoas que vivem de quadrinhos, mas com certeza existe um número maior hoje em comparação a dez, vinte anos atrás”

PJ Brandão, professor universitário e pesquisador de quadrinhos

Thyago Cabral, mais conhecido como Thyagão, é artista visual, sócio‐diretor do Baião Studio e trabalha com quadrinhos há mais de 20 anos. Atualmente, é chargista do jornal Diário do Nordeste. “Hoje existem ótimas oportunidades. Eu sou do tempo em que se fazia tudo de forma muito artesanal, analógica, imprimindo em xerox e mandando para as outras pessoas conhecerem. Então, sempre foi um grande desafio publicar. Eu tive a sorte de poder começar publicando no jornal. O jornal sempre teve essa característica de dar oportunidades para novos autores”, ele conta.

Economia criativa

As histórias em quadrinhos estão inseridas na chamada Economia Criativa, nome dado a um conjunto de atividades e serviços que se originam no capital intelectual. Por isso mesmo, segundo Luis Carlos Sabadia, presidente da Câmara Setorial da Economia Criativa da Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará (Adece), que trabalha também com Gestão Cultural e Economia Criativa, é uma economia do intangível, trazendo dificuldades para mensurar seus impactos. “Um dos grandes desafios é esta mensuração, este impacto com base em dados primários, ou seja, uma pesquisa que seja feita diretamente nos dados”, diz.

Os números mais recentes do setor foram publicados pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), que desde 2008 divulga o Mapeamento da Indústria Criativa a cada dois anos. A pesquisa aponta que, desde 2014, a participação nacional no PIB tem gerado algo em torno de 2,62%, com pequenas oscilações. O pico aconteceu em 2015, com 2,64%. E, em 2017, o PIB Criativo representou 2,61% de toda a riqueza gerada no território nacional.

Diva Mercedes, analista do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas no Ceará (Sebrae/CE) e gestora do projeto de Economia Criativa da instituição, comenta que o impacto dessa economia é extremamente positivo porque ela tem uma matéria‐prima imprescindível para os negócios que é a criatividade.

“Nós já percebemos o grande potencial que é essa Economia Criativa. Ela por si só já tem essa vantagem por ter como essência do negócio pessoas que conseguem apontar soluções novas para problemas antigos”

Diva Mercedes, analista do Sebrae/CE

No cenário dos quadrinhos, a analista reforça a importância da profissionalização para aqueles que querem entrar no mercado. “Nós recomendamos, normalmente, que as pessoas busquem se cadastrar como Microempreendedor Individual, por exemplo, para ter as mínimas condições para fazer negócios, emitindo uma nota fiscal, recolhendo imposto. É importante buscar essa formalização para que se possa negociar no mercado”, justifica.

Inclusive, PJ Brandão ressalta as oportunidades de atuação que as HQs abrangem em seu universo, mesmo para aqueles que não trabalham diretamente com a produção de quadrinhos. Ele é realizador do projeto HQ sem Roteiro, um podcast que aborda quadrinhos como linguagem, arte, mídia, produto cultural e documento históric

“Quem desenha com quadrinhos pode se tornar um ilustrador publicitário, fazer camisetas. Quem faz roteiro pode trabalhar no audiovisual, pode escrever texto publicitário, pode escrever texto jornalístico, para YouTube, enfim. Falar de viver de quadrinhos hoje ainda é difícil, mas sem dúvida alguma é uma ponte, criativamente, para muitas pessoas referente a muitas coisas além dos quadrinhos”

PJ Brandão, professor universitário e pesquisador de quadrinhos

Produção digital

O pesquisador conta que os primeiros quadrinhos começaram a se desenvolver no ambiente do jornal. Era um tipo de narrativa que utilizava imagem e texto, sendo impressa em uma página que seria vista por várias pessoas por ser, naquele momento, o principal veículo de comunicação popular por excelência. “Hoje, a internet meio que ocupa esse lugar. Todo mundo lê notícias e vai atrás de informações dentro da internet. A HQ também é ressignificada dentro desse ambiente. Temos pessoas que ficaram famosas, que ganham bastante dinheiro com quadrinhos com financiamento coletivo, por exemplo, que é uma forma interessantíssima de obter dinheiro por meio da sua arte, sem nunca ter impresso uma tira na vida, apenas produzindo na internet”, ele explica.

Para o pesquisador de quadrinhos, o mundo digital acaba sendo um espaço que os quadrinistas ocupam e conseguem muito mais visibilidade, assim como ocorria com o jornal antigamente, mas com uma vantagem: não há mais a limitação geográfica. “Quem faz uma tirinha no Ceará e coloca na internet pode ser lido por um gaúcho ou até um japonês. A internet quebrou essas barreiras, é um espaço importante de divulgação e também de financiamento de projetos”, conclui.

“Eu tenho percebido que o digital salvou muitas pessoas em termos financeiros. Principalmente com a criação de um público que possa se interessar pelos quadrinhos publicados para consumir materiais mais longos depois”

Brendda Maria, quadrinista

Para ela, o consumo de quadrinhos digitais e e‐books pode tornar os preços dos produtos mais acessíveis para o leitor. “No contexto atual, temos conseguido interagir na cena graças à internet”, ela pontua.

Desafios

Os desafios para quem quer produzir HQs no Estado ainda são grandes. Brendda, que faz parte do meio independente, conta que o processo ainda é custeado pelo bolso de quem sonha em ver a sua obra concluída. “A gente que vai lá e corre para poder ter a grana. Eu tenho que trabalhar com quadrinhos em horários alternativos porque também trabalho em um expediente de oito horas, já que só de quadrinhos, para mim, ainda não é possível ter sustento. Mas existem algumas alternativas que podem ajudar. Tem canal por assinatura, tem financiamento coletivo. Para quem é independente, existem essas alternativas, mas não é fácil. Porque o público consumidor de quadrinhos com histórias mais longas ainda é pequeno e as editoras têm pouca abertura para os autores. Temos vários autores no Nordeste, mas se não fôssemos para eventos fora do Estado, a gente não criava público, não fazia nome. Outra coisa é que com a pandemia e sem feira, então, muitas produções ficaram encalhadas”, desabafa.

Para Luis Carlos Sabadia, presidente da Câmara Setorial da Economia Criativa da Adece, a HQ é uma linguagem que ainda não detém a força política de outras como o teatro, a dança. De acordo com ele, isso é necessário para que, a partir dessa força política, a linguagem HQ tenha mais espaço nas políticas públicas destinadas à cultura. “Outra questão é que longe das bancas de revista, por conta do problema nacional de distribuição, o mercado de HQs hoje em sua maioria é independente e acontece em livrarias especializadas, através de feiras ou vendas online. Ou seja, precisamos estimular mais esses espaços de vendas”, ressalta.

Ele reflete também sobre a atuação de outros estados, como São Paulo, que possui em sua Lei Estadual de Incentivo à Cultura um edital específico para histórias em quadrinhos.

“É uma política que poderíamos pensar e ter aqui em nossos editais e políticas culturais”, avalia. “Um único alento que nós tivemos foi a Lei Federal Aldir Blanc. Essa lei destinou R$ 3 bilhões para o setor cultural em todo o Brasil. Deste valor, o Ceará foi agraciado com R$ 138 milhões, sendo que R$ 71 milhões destinados a ações do Estado e R$ 67 milhões foram voltados para os municípios cearenses que fizeram a gestão desse valor. Todos os setores, de forma democrática, puderam concluir estes investimentos, que foram contratados no final de 2020 e que na prática serão sentidos pelo público agora em 2021”

Luis Carlos Sabadia, presidente da Câmara Setorial da Economia Criativa da Adece

A Câmara Setorial da Economia Criativa ainda não possui um representante da categoria história em quadrinhos por ser a mais nova câmara setorial da Adece e ainda passar por ajustes nas suas representatividades. “Hoje temos duas associações que têm, de alguma forma, relação com HQ, que é a Associação Cearense de Desenvolvedores de Jogos (Ascende) e a Associação Ceará Design”, complementa Luiz Carlos.

“Atualmente pode ser mais fácil publicar, por conta do meio digital, mas o comprometimento e o desafio de trabalhar com quadrinhos ainda são os mesmos de sempre. É preciso ter paixão com força de vontade de produzir. É importante ver quais quadrinhos estão se destacando nas redes sociais e por que, criar seu universo e se divertir bastante com isso. Mas, quem quer viver desse mercado, tem que pensar na questão profissional, em como monetizar para poder, de fato, viver da sua arte”

Thyago Cabral (Thyagão), chargista

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