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Quando o assunto é comércio internacional, muitas pessoas acabam se rendendo ao senso comum e a números absolutos, sem contexto. Para investidores, entretanto, a análise deve ser mais apurada, o que faz com que os olhares não raro se voltem para mercados com largo potencial em detrimento daqueles que já possam estar, de certa forma, […]

Com enorme mercado potencial, rota da África se revela para o Ceará

Quando o assunto é comércio internacional, muitas pessoas acabam se rendendo ao senso comum e a números absolutos, sem contexto. Para investidores, entretanto, a análise deve ser mais apurada, o que faz com que os olhares não raro se voltem para mercados com largo potencial em detrimento daqueles que já possam estar, de certa forma, saturados. É o que o Ceará deveria fazer em relação às nações africanas. 

De fato, a pauta do Estado em relação ao continente ainda é pouco diversificada, com exportações e importações igualmente baseadas em itens de baixo valor agregado, poucos produtos manufaturados e um número incipiente de empresas atentas àquele lado do planeta. “Existe um potencial gigantesco de comércio não explorado”, exclama o presidente do Instituto Brasil África (Ibraf), João Bosco Monte.

O dirigente está se referindo a um mercado com mais de 1,2 bilhão de habitantes, grande crescimento demográfico e países em intenso ritmo de desenvolvimento como fatores favoráveis, entre outros.   

“É importante ainda mencionar que a África está estruturando sua Área de Livre Comércio, que será uma das maiores do mundo. O continente africano tem grande potencial e alguns de seus países apresentam algumas das maiores taxas de crescimento. Desta forma, fazer negócios com um país africano significa ter abertura para um continente inteiro, com grandes oportunidades. Com esse tratado, é importante fortalecer os laços e expandir os negócios com a África”

João Bosco Monte, presidente do Ibraf

Com recorte apenas no ano de 2019, o Ceará realizou trocas com mais de 20 países africanos e exportou mais de 14 US$ milhões. Destaque para as transações envolvendo África do Sul, Angola e Cabo Verde. As importações, por sua vez, estiveram bem mais em alta, como já costumava acontecer em anos anteriores, superando os US$ 112 milhões. Deixou um déficit de US$ 97 milhões na balança comercial, é verdade, mas nada que não possa começar a ser alterado nos próximos anos, segundo Fábio Fraines, diretor regional para o Nordeste da Câmara de Comércio Afro-Brasileira (AfroChamber)

“Quando falamos de África, estamos nos referindo a 55 países, dos quais cinco falam português (no mundo, são oito nações que usam o idioma), e há diversas oportunidades”. Entre elas, ressalta Fraines, está a competitividade das mercadorias brasileiras, proporcionada pelo câmbio desvalorizado em relação ao dólar: “Nossos produtos estão muito mais competitivos lá fora. Nosso maior concorrente seriam produtos da China e estamos trabalhando praticamente em pé de igualdade com ele em termos de preço, mas com uma qualidade muito superior”, compara. 

Outra grande oportunidade que se apresenta é que a grande maioria desses países africanos possui um parque industrial muito escasso, avisa Fraines. O diretor da AfroChamber enumera ainda outras vantagens nessa relação intercontinental “Existem incentivos, bons projetos nesses países para que empresas de fora se instalem neles, com os governos locais cedendo terrenos, propriedades, facilitando crédito e oferecendo isenções de muitas tarifas por muitos anos, além de farta mão de obra. É um bom momento, uma ótima oportunidade”, sentencia. 

Construir novas relações entre as duas representações é questão apenas de favorecer a criação dessas “pontes”, conforme os ouvidos pela reportagem. “É preciso um maior conhecimento, tanto do lado cearense quanto do africano, das oportunidades de negócios. Acredito que os empresários do Ceará precisam conhecer a África, entender o potencial econômico da região, assim as parcerias serão muito benéficas para ambos os lados”, avalia ele.

Setores

Dois setores têm se destacado mais nas trocas comerciais entre Ceará e países africanos: o alimentício e o de calçados. Para que se tenha ideia, com a África do Sul, país que mais se destacou nessas relações com o Estado nos últimos anos, foram mais de US$ 1,9 milhão negociados no segmento de calçados polainas e artefatos semelhantes no ano passado, conforme dados do Observatório da Indústria da Federação das Indústrias do Estado (Fiec). Em segundo lugar na relação com aquele país, com bem menos representatividade, ficaram os produtos gorduras e óleos animais ou vegetais, com US$ 323,3 mil. O “vice-campeão” em exportações para o Ceará é Cabo Verde, que de seus US$ 2,7 milhões gastos no total, deixou US$ 1,1 milhão em combustíveis e óleos minerais e US$ 729,4 mil com obras de ferro fundido, ferro ou aço.    

Outro setor que possui boa representatividade é o do agronegócio. “No Brasil, é o que está mais avançado em termos de exportação para a África, mas no Ceará praticamente não há exportações, há mais importações, e elas ocorrem para castanha de caju, e ainda em épocas sazonais. Algumas empresas do Estado, para as quais até já liderei alguns projetos, fizeram exportações de materiais de construção civil, o que tem sido uma boa oportunidade, por conta da desvalorização cambial que tem ocorrido. E lá tudo é negociado em dólar”, relaciona Fraines.


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Se nas exportações os setores alimentício e calçadista, que são especiais por conta do know-how existente, segundo o professor João Bosco Monte, do ponto de vista das importações, o setor de insumos, com destaque para produtos derivados de petróleo e carvão mineral, possui boa aceitação. Entre as nações africanas que mais obtiveram receita advinda do Ceará em 2019 estão África do Sul (US$ 32,8 milhões) – em grande parte com minérios escórias e cinzas -, Nigéria (US$ 32,6 milhões) e Moçambique (US$ 31,9 milhões) – ambas em sua quase totalidade enviando para cá combustíveis, óleos minerais e produtos de sua destilação. 

Pandemia

Com a chegada do novo coronavírus e a pandemia que se instalou, sacudindo os mercados pelo mundo todo, cada país ou bloco econômico teve de se apressar para estabelecer suas estratégias de modo a sobreviver à crise que se assomava. 

No caso dos africanos, a busca por reforço no comércio interno foi um das opções, o que naturalmente fez com que o volume de exportações caísse acentuadamente. “Essa tendência de protecionismo é uma pauta que já vinha crescente nos últimos anos. Além disso, a pandemia mostrou que os países que são dependentes de exportações podem, de fato, ser afetados com uma crise mais aguda. Entretanto, acredito que, neste momento de instabilidade, é ainda mais fundamental o estabelecimento de acordos e fortalecimento da cooperação internacional, em especial no âmbito da transferência técnica e científica”, explica Monte.

Já Fábio Raines projeta quem pode se sair melhor nos negócios com africanos no pós-pandemia. “Muitos países por lá estão começando a chegar ao pico só agora, que é o que já temos passado, mas, ao reabrir, devem retomar seus negócios normalmente. Os setores que podem ser beneficiados serão o de calçados, de malhas e vidros. Inclusive no ano passado, uma empresa cearense que trabalha com beneficiamento de vidros fez boas exportações. O problema é que o cearense tem mais a cultura de importar”.

Levantamento ‘no forno’

De olho na expansão dos acordos e novas oportunidades de negócios envolvendo o Estado e o continente onde a humanidade deu seus primeiros passos, o Instituto Brasil África realizou uma pesquisa em parceria com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal). O documento, que logo deverá estar disponível para acesso no site do Ibraf, tratará sobre o histórico das relações entre a Região Nordeste e o continente africano. O estudo contará com um mapeamento das rotas marítimas do Brasil com a África.

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