Especialista acredita que, a longo prazo, dentro de 10 a 15 anos, a produção de mel deverá passar por uma grande mudança. (Foto: Envato Elements)
A produção de mel no Brasil e no Ceará atravessa um bom momento. Em 2023 foram produzidos no país 64,18 mil toneladas, crescimento de 8,89% em relação a 2022 (62,49 mil toneladas) e de 22,28% em comparação a 2020 (52,49 mil toneladas). O Ceará também apresenta crescimento: 46,33% quando comparado o total de 2023, de 5,70 mil toneladas, com 2020 (3,87 mil toneladas). As perspectivas para os próximos anos são otimistas, tanto nacionalmente como para o Ceará.
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No Estado, quando a comparação é feita entre 2023 e 2022 (5,39 mil toneladas), o aumento é de 5,65%. O Ceará é quinto maior produtor do Brasil, atrás apenas do Rio Grande do Sul (9,11 mil toneladas); Piauí (8,82 mil toneladas); Paraná (8,48 mil toneladas) e Minas Gerais, com 6,86 mil toneladas. A produção cearense supera a de São Paulo, Bahia, Santa Catarina, Maranhão e Pernambuco, respectivamente o sexto, sétimo, oitavo, nono e décimo no ranking nacional.
No Ceará, os dez maiores produtores, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), são: Santana do Cariri, com 1,18 mil tonelada; Morada Nova (300,00 mil quilos); Tabuleiro do Norte (237,5 mil quilos); Mombaça (200,00 mil quilos); Acopiara (119,11 mil quilos); Crateús (195,00 mil quilos); Potiretama (180,00 mil quilos); Parambú (176,00 mil quilos); Novo Oriente (171,00 mil quilos) e Mauriti (155,36 mil quilos).
Outro dado interessante do IBGE revela a produção por regiões brasileiras. Do total produzido em 2023 (64,18 mil toneladas), o Nordeste é responsável por 25,62 mil toneladas, ocupando a primeira colocação, sendo seguido pelo Sul, com 21,83 mil toneladas. Em seguida vem o Sudeste, com 13,64 mil toneladas; o Centro-Oeste, com 1,80 mil tonelada e, finalmente, a região Norte, com 1,28 mil tonelada.
De janeiro a maio de 2024, segundo os dados da Associação Brasileira dos Exportadores de Mel (Abemel), o Brasil exportou 13,83 toneladas. Desse total, os Estados Unidos representa o maior destino, com 11,32 toneladas, o equivalente a 82%; seguidos pelo Canadá, com 1,31 tonelada (9%); Alemanha, com 527 mil quilos (4%), e Reino Unido, com 408 mil quilos (ou3%).
Em 2023, pelos dados da Abemel, as exportações de mel brasileiro totalizaram 28,53 toneladas, sendo 22,71 para os EUA (80%), seguidos pela Alemanha, com 2,06 toneladas (7%) e Canadá, com 1,83 tonelada (6%). Naquele ano, as exportações do produto renderam US$ 85,22 milhões, dos quais US$ 67,25 milhões dos EUA; US$ 6,38 milhões da Alemanha, e US$ 5,49 milhões do Canadá.
A cada ano, mais pessoas aderem a apicultura no Ceará, que conta com cerca de nove mil famílias envolvidas diretamente na produção de mel, segundo informa Irineu Machado (foto), presidente da Federação da Apicultura do Ceará (FAC). “É uma das cadeias mais ativas, que tem crescido, inclusive, com a adesão de muitos jovens, principalmente ao sistema de melíponas (as chamadas abelhas sem ferrão)”. Observa que no município de Forquilha, na Zona Norte do Estado, foi fundada a primeira fazenda experimental e que hoje a Federação já tem mais cinco fazendas do tipo, localizadas em Reriutaba, Chorinho, Pacajus, Cariré e Groaíras.
Irineu Machado observa que no Ceará a cadeia produtiva do mel é ligada a agricultura familiar, cerca de 90% dos produtores estão dentro dessa condição – estima, acrescentando que o produtor inserido na agricultura familiar não vive exclusivamente da apicultura, que é uma atividade que faz parte do que sua propriedade produz, compondo, desta forma, a renda anual da família.
“A produção de mel é formada por uma grande cadeia. Por exemplo, a serraria São Francisco (em Solonópoles), no Ceará, que produz caixas para abelhas, é uma das maiores do Brasil e vende para todo o país. É uma cadeia em ascendência, porque é onde você consegue trabalhar sem destruir a natureza, beneficiando a todos direta ou indiretamente. Aonde você faz a implantação de um apiário, a região se desenvolve e muito, principalmente se tiver fruticultura por perto, pois as abelhas fazem polinização.”
Irineu Machado, presidente da FAC
O Presidente da FAC diz que há mais de sete anos tem procurado difundir a apicultura no Ceará, inclusive com realização de vários eventos, sobretudo seminários. “Somente o Ceará Mel já foram 29 edições”. Ele ressalta o apoio que a atividade tem recebido do Banco do Nordeste, do Sebrae e da própria PEC Nordeste (evento realizado pela Federação da Agricultura e Pecuário do Ceará). “Mas ainda necessitamos cada vez mais de informações, de educação apícola, que envolve várias questões, como manejo e novos métodos”.
Irineu Machado acredita que a longo prazo, dentro de 10 a 15 anos, a produção de mel deverá passar por uma grande mudança, como uso de novas tecnologias, métodos e profissionalismo, o que vai tornar a atividade no Ceará cada vez maior, atraindo mais investidores e produtores. Ele enfatiza que, atualmente, o que mais falta para a produção deslanchar é maior profissionalismo em toda a cadeia. “Precisamos de mais unidades de beneficiamento com selos (certificações), que é importante para dar destaque ao mel cearense, tanto a nível municipal, estadual e nacional. Atualmente, são 15 unidades de beneficiamento no Ceará, seis selos de inspeção estadual e de municipal há em torno de seis”.
“Nós estamos ainda nos polindo, mas falta muito pouco, sabe? Muito pouco mesmo para nós alcançarmos um patamar que nos permita dizer: hoje, a apicultura cearense está no topo. Nós temos os melhores apicultores, nós temos os melhores apiários. Nós temos a capacitação, com parcerias com as secretarias estaduais, ministérios e demais Instituições. Isso é tudo é necessário, mas queremos uma assistência ainda maior. Somos um diamante quase bruto, estamos na fase de lapidação. O mel é o ouro do Ceará. É mel de qualidade.”
Irineu Machado, presidente da FAC
Apicultores de Crateús e Independência receberam as primeiras colmeias inteligentes em seus apiários. A instalação dos sistemas, que permitem o monitoramento remoto de colmeias, foi realizada em novembro de 2024, e fazem parte da ação do projeto Impulsiona Ceará no Arranjo Produtivo Local (APL) de Apicultura de Crateús, segundo divulgou o Governo do Ceará.
Por meio de um conjunto de sensores, as colmeias inteligentes aferem dados como temperatura, umidade, pressão e peso e geram diagnósticos sobre eventos indesejados, enviando alertas de perigo para o apicultor. O objetivo principal é buscar o bem-estar das abelhas e dos produtores para a melhoria da produção de mel.
Neste primeiro momento foram instaladas três colmeias em apiários nos distritos de Tucuns e Curral Velho, em Crateús; e três no distrito de Várzea Alegre, em Independência. Ao todo, serão instaladas 12 unidades, somando seis em Crateús e seis em Independência.
O Impulsiona Ceará é uma iniciativa da Agência de Desenvolvimento do Ceará (Adece) executada pelo Instituto Centro de Ensino Tecnológico (Centec), com o apoio das Secretarias do Trabalho (SET) e do Desenvolvimento Econômico (SDE). O projeto tem como objetivo principal apoiar a política de desenvolvimento local e regional dos Arranjos Produtivos Locais (APL) no Estado, por meio da realização de consultorias, planos estratégicos e eventos, dentre outras atividades.
APL são agrupamentos de empresas que atuam em setores econômicos similares e, geralmente, encontram-se em uma região geográfica específica. Realizado desde 2021, o Impulsiona Ceará foi responsável pela identificação de 108 arranjos e aglomerados produtivos em diferentes níveis de desenvolvimento por todo o Ceará. Desse total, foram mapeados 36 Arranjos Produtivos Locais.
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