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Publicado pela primeira vez em 2018, o Índice amplia a quantidade de marcas analisadas a cada ano. A edição pioneira observou 20 empresas. Em 2021, foram 50 marcas avaliadas, de acordo com cinco critérios. (Foto: Freepik)

Índice de Transparência da Moda pode impulsionar melhoria socioambiental no setor

Por: Karine Nascimento | Em:
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Apenas 10% das empresas garantem oferecer um salário justo para os trabalhadores da cadeia do fornecimento. Esse é um dos dados divulgados pela quarta edição do Índice de Transparência da Moda no Brasil. A pesquisa avalia grandes marcas que atuam nesse setor e é uma produção do Fashion Revolution Brasil – uma organização não governamental sem fins lucrativos que busca tornar a indústria da moda mais ecológica e responsável –, em parceria com outras instituições, como o Sebrae e a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção.


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Publicado pela primeira vez em 2018, o Índice amplia a quantidade de marcas analisadas a cada ano. A edição pioneira observou 20 empresas. Em 2021, foram 50 marcas avaliadas, de acordo com cinco critérios: compromissos, governança, rastreabilidade, comunicação e “tópicos em destaque”. O quinto critério varia anualmente, e para a atual pesquisa considerou temas como trabalho decente (combate ao trabalho escravo contemporâneo, respostas à Covid-19 e salários justos, por exemplo); igualdade de gênero e racial; materiais sustentáveis; hiperconsumo, resíduos e circularidade; água e químicos; e clima e biodiversidade.

“O quinto tópico é variável para que se possa ter uma maior flexibilidade no questionário e abraçar questões urgentes, inclusive as que surgem sem que se consiga prever, como no caso da pandemia. Em 2020, por exemplo, a gente incluiu os microplásticos, porque foi um assunto que começou a vir mais à tona”, explica Isabella Luglio, integrante do Fashion Revolution Brasil e coordenadora do Índice de Transparência.

Como também descreve Isabella, a produção do Índice leva em consideração as informações que são disponibilizadas pelas corporações. “O Índice é feito baseado em um questionário que tem mais de 250 perguntas. Os nossos pesquisadores vão, item a item, confirmando se as informações solicitadas na lista estão disponíveis publicamente nos sites ou demais canais de comunicação dessas empresas. Não existe, por exemplo, uma auditoria desses dados”.

Além do número citado no início da matéria, outros dados da pesquisa podem ser destacados. Apenas 14% das marcas divulgam progresso na eliminação de produtos químicos perigosos e só 4% divulgam se oferecem serviços de conserto a fim de prolongar a vida útil das roupas. A pontuação média das empresas analisadas, considerando todos os critérios, foi de apenas 18%. As marcas com melhores avaliações foram a C&A, com 70%, e a Malwee, com 66%. Por outro lado, 17 empresas não pontuaram.

Sendo uma das responsáveis pelo Índice, Isabella Luglio garante que, no resultado, podem ser encontrados pontos negativos e positivos. “Nenhuma das marcas divulga nenhum tipo de compromisso em relação ao desmatamento zero. A gente vê diariamente a destruição da Amazônia, do Cerrado, então acho que não tem como as empresas não olharem para isso. Outra questão também que, para mim, foi bem impactante, é que nenhuma das marcas publica uma distribuição de cargos por raça. A gente fala que o que você não mede, você não consegue mudar. Então, se eles não conseguem saber qual é o retrato daquele empreendimento, eles não vão conseguir promover ações em prol da igualdade racial e da inclusão”.

“Por outro lado, em um dos critérios, o Brasil conseguiu ficar acima da média global, que foi na rastreabilidade. Isso significa que as marcas brasileiras tendem a divulgar mais suas listas de fornecedores do que as marcas globais, e esse é um ponto positivo”, reforça Isabella.

Ainda de acordo com a integrante do Fashion Revolution Brasil, a maior importância do levantamento é a produção de conteúdo sobre a indústria nacional, tornando as informações mais acessíveis. No entanto, a pesquisa também é relevante ao acompanhar, ano a ano, as empresas.

“No grupo de 20 marcas que vem sendo analisado desde 2018, é possível ver um crescimento, já que a pontuação média dessas marcas foi de 30%. A gente consegue perceber que, uma vez que as empresas são incluídas no Índice, grande parte faz um esforço interno para que as informações socioambientais sejam divulgadas. Muitas vezes as empresas até já possuem essas informações, mas ainda não tinham considerado importante divulgar. Durante o processo, a gente vê que o Índice funciona como um guia”, explica Isabella Luglio.

Sustentabilidade nos pequenos negócios

O Índice de Transparência da Moda no Brasil também é visto, por pequenos produtores que integram a indústria, como uma ferramenta importante para um futuro com modos produtivos mais sustentáveis e uma moda mais justa e inclusiva.

“Além de uma política governamental, de um consumidor mais consciente e além de marcas que estejam buscando processos mais justos, a gente precisa, sim, desses levantamentos, desses institutos que tenham um olhar imparcial, sem interesse mercadológico, que possam mapear e dar indicadores para que se possa planejar melhorias”, pontua Celina Hissa, diretora criativa da Catarina Mina.

Mesmo não estando entre as empresas avaliadas pelo Índice, Celina destaca alguns pontos que a marca possui para estar de acordo com as políticas socioambientais. “Temos uma metodologia de custos abertos e também adotamos, há cerca de quatro anos, um QR Code. Cada artesã tem um cartãozinho com um QR Code, que é colocado nas bolsas. Quando você escaneia esse QR Code, você tem acesso à foto da artesã e a uma pequena descrição sobre ela construída de forma bem afetiva. Você pode ter acesso, também, à comunidade onde ela trabalha, além de vários indicadores da região”.

“Aqui no Ceará, a gente trabalha com uma rede de mais de 300 artesãs, todas com o seu cartãozinho, e, como marca, nós temos essa vontade de fortalecer o artesanato local, fazendo a renda chegar a lugares aos quais ela não chegaria. Então, é muito importante essa conexão com quem fez a bolsa, porque, mais importante do que o artesanato, é trabalhar com as artesãs, e isso está na metodologia e no nosso processo de trabalho”, explica Celina Hissa.

Alice Mesquita, articuladora da Unidade de Competitividade dos Negócios do Sebrae/CE, também acredita que é possível aplicar os conceitos socioambientais mesmo em pequenas marcas. “Ser ético e sustentável não deve ser um custo para os negócios, pode ser inclusive um fator de competitividade e alavancagem. Eles podem ter destaque no mercado com produtos diferenciados, agregando valor e cuidado com seu público-alvo”.

“Os pequenos negócios geralmente têm um processo produtivo bem enxuto, mas algumas práticas de sustentabilidade podem ser inseridas. Muitas dessas práticas ajudam, inclusive, a empresa a diminuir custos, como é o caso da redução do desperdício de matéria-prima e descarte de forma adequada, além do uso da água e da energia de forma consciente. Também são importantes práticas como usar matéria-prima e produtos que não agridam o meio ambiente, aplicar um preço justo do produto e comprar de outros pequenos negócios, de preferência, no próprio município ou bairro. Observar a idoneidade do fornecedor e fazer parceria com outros pequenos negócios também deve ser levado em consideração”, aconselha Alice, sobre como implantar essas ações no dia a dia.

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