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75% da última safra nacional (2019/20), cuja produção alcançou três milhões de toneladas, recebeu a certificação socioambiental Algodão Brasileiro Responsável (ABR). (Foto: Freepik)

Desafios do mercado de algodão no Brasil e no mundo

Por: editorial | Em:
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O Brasil é o quarto maior produtor mundial de algodão e o segundo maior exportador, sendo considerado o maior fornecedor de algodão sustentável do planeta, de acordo com dados da Abrapa (Associação Brasileira dos Produtores de Algodão).


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75% da última safra nacional (2019/20), cuja produção alcançou três milhões de toneladas, recebeu a certificação socioambiental Algodão Brasileiro Responsável (ABR). Soma-se a isso o fato do Brasil ser campeão mundial em produtividade em sequeiro (sem irrigação), com 92% de suas plantações dependendo apenas de chuvas para se desenvolver.

Segundo Júlio Cézar Busato, presidente da Abrapa, a tecnologia criada pelos cotonicultores brasileiros em parceria com Embrapa, universidades, fornecedores de insumos e técnicos, permitiu ao país ter a maior produtividade de algodão não irrigado do mundo.

“Os agricultores da região do Cerrado, em que 94% da produção se encontra, conseguem colher o dobro de pluma (algodão sem caroço) do que os produtores americanos (1800 quilos de pluma por hectare contra 970 quilos nos Estados Unidos). Nós seremos os maiores exportadores mundiais de algodão em um curto espaço de tempo e, em um maior período, seremos o primeiro produtor mundial de algodão”.

Júlio Cezar Busato, presidente da Abrapa

O Brasil também é um dos maiores consumidores mundiais do fio, consumindo cerca de 720 mil toneladas de algodão pluma por ano. No entanto, apesar desse cenário favorável ao tecido no país, as fibras sintéticas vêm ganhando espaço no mercado doméstico.

Há dez anos, o algodão representava 57% do total de fibras utilizadas pela indústria têxtil nacional. Hoje, representa 46%, segundo informações da Abrapa. O mesmo tem acontecido no mundo, onde o algodão também tem enfrentado uma forte concorrência de tecidos sintéticos como o poliéster.

Esse polímero viu sua produção crescer nas últimas décadas, ultrapassando a de algodão em 2000 e alcançando em 2020 o dobro do valor de 2000. Enquanto isso, a produção de algodão manteve-se quase estável nesse período, segundo dados da Tecnon OrbiChem, empresa de BI (Business Inteligence) para o setor petroquímico.

“O consumo mundial praticamente dobrou nos últimos 25 anos, particularmente na Ásia, e o consumo de algodão não aumentou, está quase estável. De 95 até agora, a variação foi pouca, de 10% a 15%, e o preço dos sintéticos está cada vez mais competitivo. Existe um apelo muito grande para o custo-benefício. Com o poliéster, você utiliza a mesma roupa durante dez anos sem se degradar, diferente do algodão que é biodegradável”

Sergio Benevides, coordenador do Comitê de Algodão da ABIT (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção

Sustentabilidade

Se por um lado o poliéster é mais barato e durável, por outro gera problemas ambientais devido ao fato de não ser biodegradável, permanecendo no ambiente por um longo tempo após o seu descarte. “As roupas sintéticas geram microfibras que se soltam do tecido quando lavadas, contaminando rios, mares e peixes e, consequentemente, retornando aos seres humanos gerando problemas de saúde”, afirma Busato. 

Em 2016, com o objetivo de mostrar os benefícios e as possibilidades do algodão e incentivar o seu uso e consumo responsável no contexto nacional, foi criado o programa “Sou de algodão” pela Abrapa. “A iniciativa une todos os agentes da cadeia produtiva do algodão e da indústria têxtil por uma moda mais consciente: homens e mulheres do campo; tecelões; artesãos; fiadores; designers de moda; estilistas; varejistas; estudantes e consumidores”, explica o presidente da associação.

“Para o algodão recuperar espaço, é preciso uma campanha mundial pela sustentabilidade do planeta”, defende Benevides. Segundo Busato, para o uso de algodão crescer, é preciso aumentar a rentabilidade da cultura, que é resultado da produtividade, do custo da produção e do preço do algodão no mercado, e a expansão do mercado consumidor. “Tudo que produzimos além de 720 mil toneladas (quantidade atualmente consumida no Brasil), precisamos exportar. Por isso, a Abrapa criou um programa chamado Cotton Brasil e um escritório na Ásia para divulgar o nosso algodão nesse mercado”.

O algodão no Ceará

A relação entre o Ceará e o algodão vem de longa data. O estado, que chegou a ser o terceiro maior produtor do país e o maior do nordeste há cerca de três décadas, viu as suas plantações serem devastadas pela praga do bicudo. Isso obrigou muitos agricultores a abandonarem o cultivo da planta.

“Historicamente, todas as grandes cidades do interior do Nordeste tiveram seu desenvolvimento econômico impulsionados pelo algodão. Por diversos motivos (praga do bicudo, secas constantes, economia mundial), na década de 1990 houve uma derrocada da cultura na região, o que deixou uma enorme lacuna na economia do Nordeste e do Ceará, que chegou a ter mais de um milhão de hectares plantados com algodão”

Gildo Pereira de Araújo, analista da Embrapa

Atualmente, Mato Grosso e Bahia são os maiores produtores nacionais de algodão, com produções estimadas para a safra 2020/21 de 1,724 milhão de toneladas (70% da produção nacional) e 510 mil toneladas (cerca de 25%), respectivamente.

Para reverter essa situação, em 2018 foi criado o Programa de Implantação da Cultura do Algodão no Ceará, iniciativa do governo estadual que tem como objetivo fazer com que o estado volte a ser um dos principais produtores de algodão do país.

“O programa surgiu na antiga Seapa (Secretaria da Agricultura, Pesca e Aquicultura) e em 2019 demos continuidade expandindo o programa com parceiros como a Embrapa, UFC, IFCE (Instituto Federal do Ceará) e o setor produtivo, inclusive a indústria compradora da produção. Em 2020, mesmo com a pandemia, tivemos um aumento da área plantada e realizamos muitas reuniões e lives para orientar e estimular os produtores”

Silvio Carlos Ribeiro, secretário executivo da Sedet (Secretaria do Desenvolvimento Econômico e Trabalho do Estado do Ceará), órgão responsável por conduzir o programa

De acordo com o professor e diretor de ensino do IFCE Campus Crato, Marcus Goes, foi o manejo integrado de praga, prática adotada em grandes culturas como soja e milho, que permitiu retomar o cultivo na região.

“Com a orientação de técnicos, os produtores usam defensivos agrícolas apenas quando são encontradas grandes populações de insetos, diminuindo os custos por uso indiscriminado e reduzindo a indução de resistência da praga”

Marcus Goes, diretor de ensino do IFCE Campus Crato

Além disso, outros dois fatores contribuíram com o combate ao bicudo. O primeiro foi o uso de sementes selecionadas e o segundo foi a implementação de um “vazio sanitário” entre os meses de outubro e dezembro. Neste período, os agricultores são obrigados a limparem a terra de qualquer presença de algodão, fazendo com que o inseto não tenha com o que se alimentar. “Não eliminamos o bicudo, mas aprendemos a conviver com ele”, esclarece Goes.

Em 2021, a área plantada de algodão não teve crescimento. Isto aconteceu devido à valorização do preço da soja e milho, que levou alguns agricultores a apostarem nesses cultivos. Para a safra 2021/22, o objetivo é aumentar as áreas no estado, incluindo a região do Crateús e o norte do Ceará. Além disso, a ideia é intensificar os trabalhos na região do Cariri. Este último é onde se busca estabelecer um forte programa de grãos, como milho, soja e algodão. 

“De maneira geral, o semiárido possui condições climáticas e de solo que permitem produzir a melhor fibra do país com elevada resistência”, finaliza Araújo.

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