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Especialistas apontam possibilidades geradas pela biotecnologia para melhoria da agricultura e impactos positivos causados pela parceria entre público e privado nessa área. (Foto: Freepik)

Biotecnologia na agricultura tende a potencializar crescimento do setor

Por: Maria Babini | Em:
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A tecnologia também marca presença na agricultura por meio da biotecnologia, uma forma de usar processos biológicos para resolver problemas e melhorar a qualidade de vida das pessoas. Nesse sentido, segundo Cândida Hermínia Bertini, professora associada do Departamento de Fitotecnia da Universidade Federal do Ceará (UFC), o uso da biotecnologia na agricultura é muito antigo, “ocorre desde a utilização da levedura na fermentação da uva e do trigo para produção de vinho e pão, o que já acontecia por volta de 7.000 anos antes de Cristo, até chegar na biotecnologia moderna, a partir da descoberta do DNA por James Watson e Francis Crick, em 1953”, contextualiza.


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Desde então, não faltaram ferramentas e técnicas sendo desenvolvidas ao longo dos anos para aprimorarem os trabalhos da agricultura. Cândida Hermínia cita como exemplo o controle biológico, baseado na utilização de recursos genéticos microbianos, insetos predadores e parasitóides para o controle de doenças e pragas.

Maria Luiza Castro, diretora técnica da Cesis e presidente da Red Latam de Consultores, aponta que a intenção do controle biológico é o enfrentamento natural das ameaças fitossanitárias utilizando a própria “natureza para curar os males da natureza”. Isso poderia reduzir o risco de poluição do meio ambiente e a exposição de lavouras e trabalhadores a produtos tóxicos.

“Culturalmente, existem ainda algumas resistências a serem superadas, a começar pela mudança de percepção do público em relação a utilização de bioinsumos, os produtos biológicos, versus produtos químicos, como se fosse ainda um modismo dos anos 70. A utilização de produtos biológicos na agricultura não é mais uma onda orgânica, somente utilizada por pequenos agricultores”, ela afirma.

A partir de informações da CropLife Brasil, Maria Luzia cita que o Brasil hoje conta com mais de 20 milhões de hectares tratados com produtos biológicos, desde grandes commodities como milho, soja e algodão, até os produtos de hortifruti. “O avanço da agricultura digital no campo por meio da utilização de apps, softwares, uso de drones, auxilia a aplicabilidade do controle biológico que está inserido totalmente na agricultura tecnificada, com alta qualidade de produtos, com conectividade e inovação, com eficiência, segurança alimentar e ambiental demonstradas e comprovadas pelo Registro de Produtos junto aos órgãos federais regulamentadores brasileiros. Em 2021, já são mais de 400 produtos registrados no Brasil, movimentando um mercado de R$ 1,7 bilhões com projeções de crescimento de 33%, podendo chegar a R$ 3,7 bilhões em 2030”, compartilha, citando dados da CropLife Brasil.

O uso de microorganismos, como bactérias fixadoras de nitrogênio, também tem sido uma das formas de inserir a biotecnologia na agricultura. Claudivan Feitosa Lacerda atua no Programa Cientista-Chefe, no âmbito da Secretaria do Desenvolvimento Econômico e Trabalho (Sedet), na área da Agricultura, e explica que esse processo de fixação biológica do nitrogênio gera, por exemplo, “uma economia em bilhões de reais pela não necessidade de usar fertilizantes minerais nitrogenados no cultivo da soja. Um exemplo marcante em como a biotecnologia gera benefícios socioeconômicos para a sociedade: a redução dos custos com fertilizantes e, ao mesmo tempo, a redução do uso dos fertilizantes químicos, gerando ganhos socioeconômicos como socioambientais”, analisa.

Claudivan também avalia que, nos últimos 20 anos, com o advento dos transgênicos, a  biotecnologia teve um avanço muito grande. “O homem agora passou a ter plantas mais tolerantes a herbicidas, a pragas ou mais produtivas”, explica. Em relação à comercialização das plantas transgênicas, Cândida Hermínia completa que existe muita polêmica devido “à detenção da grande parte das tecnologias desenvolvidas por parte de poucas empresas, normalmente multinacionais, e isso gera conflito principalmente nos países pobres e naqueles em que tem maior conscientização em relação a segurança alimentar local”.

Nanotecnologia

A biotecnologia na agricultura também pode contar com a participação da nanotecnologia a seu favor. Exemplo disso é a tecnologia arbolina, uma criação que nasceu na Krilltech, uma agtech brasileira fruta da parceria entre a Universidade de Brasília (UnB) e a Embrapa. De acordo com Marcelo Rodrigues, um dos sócios fundadores da Krilltech, pesquisador e cientista da UnB, a arbolina é um  biofertilizante, biodegradável e não tóxico e atua como um promotor fisiológico da planta. “Se o produtor faz todo o manejo de solo correto, deixa o ambiente para a planta nutricionalmente acessível, a inserção da arbolina vai potencializar a absorção desse nutriente. As consequências são plantas mais robustas e, obviamente aplicando no estágio certo, pode potencializar questões relacionadas à produtividade”, ele explica.

“Hoje a gente trabalha não só com as grandes commodities, mas a gente tem uma visão muito sensível com o pequeno agricultor. O agricultor, muitas vezes de subsistência, agricultor familiar, que realmente são essas pessoas que movimentam, impactam quase 35% do PIB brasileiro, mais geram empregos no campo, e muitas vezes têm dificuldade de ter acesso à tecnologia”.

Marcelo Rodrigues, pesquisador e cientista da UnB

A ideia da Krilltech é que essa nanotecnologia possa chegar ao pequeno agricultor até para contribuir com esse aumento na produção de alimentos.

Importância das pesquisas

Um fator importante para os avanços da biotecnologia na agricultura é o fortalecimento da pesquisa científica. Para Cândida Hermínia, esse incentivo, mostrando seu impacto como investimento econômico, sustentável, educativo e social, só será possível com muita informação e divulgação dos resultados. “Podemos constatar muitas vezes que para determinados problemas já existem soluções, mas falta divulgação para toda a sociedade. E muitas vezes faltam recursos, investimentos e parcerias para que isso aconteça”, ela diz.

Claudivan também vê o incentivo à pesquisa como questão central para o desenvolvimento de qualquer nação, pois é o que gera conhecimento e tecnologia. “Quando a gente desenvolve uma pesquisa voltada para a agricultura, estamos focados em dar uma resposta  para a necessidade de quem está no campo enfrentando aquelas dificuldades, seja para obter maiores produtividades ou para produtos de melhor qualidade”, avalia. Ele destaca que, no Ceará, alguns movimentos muito interessantes têm ocorrido no incentivo à pesquisa.

“Um trabalho que a Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap) desenvolve, alguns programas que têm sido criados, como o Programa Cientista-Chefe, que a gente tá trabalhando junto com a Secretaria Executiva do Agronegócio da Sedet. Tem um edital aberto, da Capes, e um dos temas é exatamente a biotecnologia para o desenvolvimento do semiárido. Certamente teremos propostas interessantes, partindo aqui também do Estado”.

Claudivan Lacerda, pesquisador em Agricultura no Programa Cientista-Chefe da Sedet

Divergências

Quando o assunto é uso da biotecnologia na agricultura, nem todo mundo tem a mesma opinião. Segundo Cândida, muitas vezes isso ocorre por causa de informações que chegam distorcidas. “Por exemplo, muita polêmica é gerada com o uso das plantas transgênicas, e até mesmo das variedades melhoradas, porque o uso delas pode causar a perda de muitas variedades crioulas, aquelas que são cultivadas há séculos por pequenos agricultores”, explica.

A professora acredita na importância da preservação dessas variedades, por se tratar de um patrimônio genético que pode ser utilizado na prospecção de novos produtos biotecnológicos, mas muito dessa polêmica gira em torno da agricultura familiar não receber tantos recursos e investimentos.

“Creio que seja possível a convivência. Isto é, que exista uma agricultura familiar fortalecida, em que seja possível o cultivo orgânico ou agroecológico a partir do cultivo de variedades crioulas melhoradas pelos próprios agricultores, com auxílio de pesquisadores da área, e que possamos ter o agronegócio também fortalecido por meio do uso de todas essas ferramentas”.

Cândida Bertini, professora associada do Departamento de Fitotecnia da UFC

Mas ela enfatiza que, independente de qual tecnologia é adotada na biotecnologia, é importante o acompanhamento e legislações apropriadas para que estas sejam empregadas de forma segura. “Em relação às plantas transgênicas, o Brasil já tem órgãos fiscalizadores e legislações apropriadas, resta saber se todas são cumpridas de fato. Com as novas técnicas advindas da edição gênica, é preciso ainda muito cuidado, pois não se tem legislação ou adaptação a essas ferramentas”, destaca.

Oportunidades

Maria Luiza enfatiza ainda que o Brasil, por ser um país de agricultura tropical, com ampla biodiversidade, variabilidade de pragas e doenças e possibilidade de duas safras por ano, tem seguramente grandes oportunidades de promover um novo salto na agricultura com a exploração dos bioinsumos.

“Sendo o Brasil um país que demanda um quinto dos agroquímicos consumidos no mundo, o incentivo ao uso de produtos biológicos que já fazem parte da matéria-prima local, nossa biodiversidade, pode ajudar a reduzir essa dependência de importação de insumos, além de gerar emprego e renda para o nosso País, fortalecendo ainda mais o agronegócio brasileiro”.

Maria Luiza Castro, presidente da Red Latam de Consultores

Marcelo Rodrigues comenta ainda que o Brasil é líder no agro mundial em virtude das grandes áreas e da produtividade que possui, mas é preciso dar um salto. “Hoje, o Brasil depende 80% de importação de insumos básicos como fertilizantes”, destaca. O pesquisador cita a importância de aproximar o setor produtivo da produção de ciência básica e aplicada para potencializar o setor. “A partir do momento que você começa a colocar tecnologia no mercado, começa a gerar bem-estar social no País”, conclui.

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