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Investimentos privados em inovação: o exemplo do Ceará

Inovar é fator determinante para o aumento da competitividade e para o crescimento da economia. Entretanto, atrair investimentos privados em inovação ainda é um desafio no Brasil. O que não é diferente no Ceará. Enquanto isso, existem oportunidades gigantescas, capazes de impactar de forma positiva não só economicamente, mas social e ambientalmente o Estado.


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É para o que chamam a atenção os especialistas na área. Nesse sentido, apontam, conectar pessoas, iniciativas e organizações torna-se fundamental para que as coisas aconteçam. E o Ceará, destacam, tem procurado avançar na busca de mais investimentos privados em inovação. “Em Fortaleza, por exemplo, têm sido implantadas várias iniciativas com o intuito de criar bons polos digitais”, afirma Kleisom Sabino, fundador da Investup, empresa cearense que atua ajudando empreendedores no nordeste brasileiro a transformarem suas ideias em negócios bem-sucedidos, orientando na captação de recursos e rede de relacionamentos.

Sabino foi um dos mediadores do painel “Investimentos Privados em Inovação”, parte da programação da segunda edição da “Escola de Verão”, evento voltado para a troca de conhecimento e experiências em Inteligência Artificial. Em uma promoção do Instituto Iracema Digital em parceria com o Governo do Ceará, por meio da Secretaria de Ciência e Tecnologia (Secitece) e da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Trabalho (Sedet), assim como da Fecomércio e do Hub Cumbuco, o evento ocorreu nos dias 29 e 30 de janeiro de 2021, transmitido pelo YouTube em quatro salas localizadas virtualmente no litoral do Estado.

Construção de ecossistemas e investimentos em inovação

Prestes a ingressar e contribuir para o ecossistema cearense de inovação, com a abertura de uma base em Fortaleza, José Thomaz Neto, líder do grupo paulista Egrégora, que se denomina um construtor de ecossistemas de empreendedorismo e inovação, conta que, juntamente como o poder público e parceiros privados nas praças onde atua, tem formatado soluções a fim de criar, por meio da iniciativa privada, centros de inovação setoriais, reunindo várias startups.

“Identificamos como tese de investimento que há algumas praças no Brasil com alto potencial econômico, mas que ainda têm um cenário de inovação em estágio inicial, quase incipiente. Por isso procuramos desenhar junto com prefeituras e parceiros locais e nacionais polos setoriais de inovação. Inovar é um desafio e contar com o poder público em algumas soluções é fundamental. As leis fiscais municipais têm beneficiado na criação desses polos digitais”

José Thomaz Neto, líder do grupo paulista Egrégora

De acordo com ele, um exemplo é o trabalho desenvolvido com a Prefeitura de Santos, em São Paulo, onde está o maior porto marítimo da América Latina. A ideia é iniciar igual processo na Cidade de Fortaleza. “Além de São Paulo, atuamos na Argentina, estamos abrindo uma filial no Vale do Silício, nos Estados Unidos, temos uma em Cayman e agora chegamos a Fortaleza”, expõe.

Conforme disse, a estratégia de chegar a outras praças não se resume apenas a descobrir startups cada vez mais distantes, “mas também trazer investidores que querem entrar nesse mercado, tendo em vista a tese de investimentos em ativos alternativos, o que inclui a assessoria de mercado, trazendo uma oportunidade madura, com um portfólio de startups selecionadas para os investidores”.

Nesse sentido, reforça Thomaz Neto, o poder público pode entrar de antemão observando políticas públicas, leis de benefício e, principalmente, dando visibilidade para o que está acontecendo. “O poder público tem muita influência na vida dos cidadãos e é capaz de trazer essa notoriedade para os projetos”, afirma.

Ainda no rol de ações desse tipo de parceria, ele cita a identificação de espaços ociosos que possam ser utilizados para os polos, assim como das necessidades e problemas para tornar a inovação efetiva. “O governo passando a entender e a adotar a inovação fica mais fácil de evoluir o modelo, atraindo mais investimentos privados em inovação”, conclui.

Aposta das grandes empresas

Atualmente com seis grandes empresas mantenedoras, outras três em negociação e a meta de chegar a 12 mantenedores ao fim de 2021, o Ninna Hub, que tem DNA cearense e é um dos principais hubs de inovação do Nordeste, tem sido peça-chave para atração de investimentos privados em inovação no Ceará.

Segundo Delano Macêdo, conselheiro do projeto e que também participou do painel “Investimentos Privados em Inovação”, desde dezembro de 2019, quando o Ninna Hub oficialmente nasceu, ele segue a sua trajetória em desenvolver o ecossistema e o mercado de tecnologia no Ceará. “Criando uma infraestrutura de apoio local, conectando empresas, startups e investidores para acelerar a inovação e inspirar novos produtos, serviços e modelos de negócios”, diz.

Na sua exposição, Macêdo frisa que mesmo com a pandemia as ações do Ninna não pararam. “O projeto não parou, as startups foram suportadas de forma digital. Além dos editais de chamadas de startups, também lançamos um programa de bolsa de estudos para o Centro de Empreendedorismo da Universidade Federal do Ceará, com o intuito de desenvolver projetos de inovação. Enfim, procuramos manter as startups, as iniciativas que podem virar startups e a relação das empresas com esses empreendimentos inovadores muito ativas, aprendendo a nos relacionar digitalmente”, relata.

Investimentos em inovação: foco na sustentabilidade

Quando o assunto é investimentos em inovação, o Ceará surge como um grande laboratório para o desenvolvimento de soluções voltadas, principalmente, para a sustentabilidade, chama a atenção Igor Juaçaba, empreendedor em Desenvolvimento Sustentável, cofundador da Elephant Coworking, do movimento Winds for Future e do Hub Cumbuco.

“Acreditando nas vocações que o Ceará tem, percebemos que somos um laboratório de problemas sociais. Já temos muitas empresas focadas em desenvolvimento sustentável, a exemplo do que se vê no setor de energia. De modo que somos um bom ambiente para sermos competitivos a nível global, para que as startups que tenham interesse no Ceará e na América Latina venham testar suas ideias e produtos aqui. Certamente irão nascer empresas que poderão competir a nível internacional com soluções inovadoras”, afirma.

Segundo ele, ainda é um desafio inovar de forma global no Ceará. “Os setores têm dificuldade de vivenciar o futuro, mas ele já está aí, em várias cidades pelo mundo, com tecnologias avançadas e programa sociais igualmente avançados. Porém, essas outras cidades, diferentemente de Fortaleza, não conseguem entender os problemas que temos em desigualdade e impacto social. Dessa forma, isso faz com que o Ceará seja mais competitivo nisso, consiga inovar mais, levando soluções sustentáveis para todo o planeta”, acrescenta.

Também entre os participantes do painel “Investimentos Privados em Inovação”, Juaçaba relatou sua experiência pioneira na implantação de um coworking em Fortaleza, ainda em 2010. Ele ressalta que, desde então, já assistiu várias startups nascerem no espaço. “Até porque nossa intenção sempre foi trabalhar de forma colaborativa e compartilhada, trazendo empresas para interagir, criar conexões”, destacou.

De acordo com ele, como os hubs em inovação foram surgindo junto com a Elephant Coworking, foi possível participar de diversos projetos. “Sempre com essa cultura de espaço livre, aberto ao diálogo. E a flexibilização e a conexão com outros ecossistemas no país facilitaram esse processo”, avalia. “Durante todo esse tempo geramos um conhecimento muito grande em gestão de comunidades”, disse.

Hub de inovação no Cariri

Os exemplos de investimentos privados em inovação no Ceará também ganham força além da Grande Fortaleza. Em Juazeiro do Norte, no Cariri, o Cuida Coworking está chegando com a intenção de contribuir para o empreendedorismo tecnológico no Interior do Estado.

“Nosso projeto nasceu com o desejo de contribuir. Nos últimos cinco anos, vimos o desafio que é empreender e, principalmente, de criar algo de maior impacto social. Então, o Cuida nasce com a missão de alavancar o empreendedorismo na região do Cariri. Nossa ideia é criar um coworking que vá além do compartilhamento de espaço, mas, sobretudo, que possibilite o compartilhamento de ideias que possam se transformar em negócios”, relata a empreendedora Samya Angelim, uma das idealizadoras do projeto.

Ela destaca que “existem muitas ideias boas e criativas que, se bem orientadas com uma mentoria adequada, com as conexões certas, atraindo, por sua vez, os investidores corretos, elas podem ter um impacto social, a nível local, nacional e até mundial”.

Luiz Faray, que está trabalhando com Samya nessa empreitada, explica que o Cuida, que também é uma plataforma digital, se propõe a gerar essas conexões. “É uma ferramenta por meio da qual o empreendedor poderá desenvolver a sua ideia e encontrar o que precisa para levar adiante. É como conectar o empreendedor com o seu par perfeito. Uma espécie de grande rede social de conexões empreendedoras. E nesse sentido, precisamos ainda cuidar e apoiar do empreendedor, daí o nome do projeto”, fala.

“Nesse processo, entender as habilidades assim como as deficiências do empreendedor e ver como complementar para diminuir as dificuldades é fundamental. Aliás, colaboração e construção em conjunto é o que deve fazer sentido em meio ao processo de inovação”

Thomaz Neto, fundador da Egrégora

Assim como ele, Samya Angelim e Luiz Faray também participaram do painel “Investimentos Privados em Inovação”, da segunda edição da Escola de Verão do Iracema Digital. “O Cariri já é referência nas áreas de saúde e educação. Temos 16 instituições de graduação e pós-graduação presencial e de Ensino a Distância, então muito pode ser desenvolvido nessa direção”, conclui Samya.

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