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Com baixas devido à Covid, restaurantes ainda tentam superar dificuldades

Segundo a Jucec, os meses com maior número de fechamentos de restaurantes em 2020 foram junho e julho. Neste ano, janeiro registrou o fechamento de 81 restaurantes e a abertura de 343. FOTO: Freepik

Dentre os setores econômicos mais afetados com a pandemia está o de restaurantes. No Ceará, não foi diferente. Com a restrição de atividades e, posteriormente, uma retomada com menor movimento, já que boa parte das pessoas ainda tinham receio de contaminação pelo coronavírus nesses espaços, os desafios ainda marcam presença na rotina dos trabalhadores da área. Lauro Chaves Neto, conselheiro do Conselho Federal de Economia (Cofecon) e assessor econômico da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), aponta que um dos desafios é a estrutura de custos fixos, pesada no setor. “Você consegue reduzir os custos variáveis de acordo com o seu movimento, o nível da sua atividade, mas fica um volume de custos fixos muito alto. E isso faz com que seja comprometida a saúde financeira de muitos dos negócios dessa área de restaurantes”, explica.


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De acordo com dados da Junta Comercial do Estado do Ceará (Jucec), de abril de 2020 até janeiro deste ano, 668 empresas do setor fecharam. Já a quantidade de restaurantes que abriram no mesmo período foi de 2.731. Os meses com maior número de fechamentos no ano passado foram junho (76) e julho (82) e de aberturas foram agosto (295) e outubro (327). Neste ano, janeiro registrou o fechamento de 81 restaurantes e a abertura de 343.

Taiene Righetto, presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) no Ceará, afirma que nesse período de pandemia cerca de 40% dos restaurantes legalizados no Estado fecharam suas portas. “Tivemos até agora, com 20 dias desse último decreto, uma perda de faturamento durante a semana de 50%, em média, e, aos finais de semana, a perda está sendo de 80%. Chegamos a contabilizar mais duas mil demissões nestes últimos 20 dias de decreto também”, comenta.

“Vimos uma migração de muita gente que passou a vender congelados para se adequar a esse momento em que as pessoas estão consumindo mais em casa. Muita gente que nem sonhava com delivery também se adaptou a esse mercado. Mas nessa situação atual de restrição, sem ajuda financeira e com uma gama de impostos grandes, e também o enfraquecimento econômico das pessoas, a tendência é realmente o encolhimento do setor”

Taiene Righetto, presidente da Abrasel

Segundo o secretário do Desenvolvimento e Econômico e Trabalho do Ceará (Sedet), Maia Júnior, novas medidas têm sido necessárias para conter o crescimento das taxas de infecções pelo novo coronavírus. Dessa forma, o Governo do Estado tem dado continuidade ao gerenciamento da crise. “Ouvindo a ciência, a Secretaria de Saúde, que é soberana no auxílio às decisões, começamos a colocar outras medidas restritivas já durante esse mês de janeiro, e tivemos que apertar um pouco mais, tirando de circulação e operacionalização hoje algo em torno de 5% da economia”, pontua.

Dificuldades e reinvenção

Para mitigar o impacto negativo da pandemia, Lauro Chaves acredita que o segmento precisa de inovação e muita criatividade para conseguir se adaptar à atual realidade. “Com as pessoas mais tempo dentro de casa, uma parte das refeições passou a ser feita em casa. E isso impacta negativamente ainda mais no movimento do setor de restaurantes”, destaca. Alice Mesquita, assessora executiva da diretoria do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-CE) no Ceará, também acredita na necessidade de reinvenção do setor. Ela aponta que um dos principais desafios que as empresas tiveram foi encontrar uma outra opção de chegar ao cliente.

“Muitas não haviam pensado nessa forma de chegar até o cliente sendo através do delivery. E a pandemia fez com que isso acelerasse. Uma outra opção, também agregada ao delivery, foi a venda online. Os negócios de alimentação tiveram a necessidade de se organizar para começar a efetuar vendas utilizando a internet e as redes sociais, e também se utilizaram do delivery para fazer a entrega. E foi preciso ter toda uma adaptação a esse novo processo de produção”

Alice Mesquita, assessora executiva da diretoria do Sebrae

Para Alice, a principal inovação foi justamente nessa parte de organização. “As empresas tiveram que modificar o processo produtivo, capacitar mão de obra para se adaptar a esse novo formato. E essa inovação de adaptação de processo é que consideramos um dos maiores ganhos para essas empresas”.

Recuperação do setor

Alice Mesquita conta que o Sebrae também precisou reformar toda a parte de atendimento aos clientes. “Entre os clientes que chegavam querendo abrir um negócio, poucos vinham com essa ideia de montar algo utilizando as redes sociais ou a internet para efetuar vendas. A maioria ainda vinha naquela ideia de colocar a loja, o restaurante, com toda uma ambientação legal. Só que agora, durante esse período de pandemia, percebemos um outro tipo de público. Esse já nos procura vindo com a ideia de se firmar no meio digital. Para quem tinha uma loja física e teve que se adaptar, nós oferecemos consultoria. Além disso, também disponibilizamos no nosso site vários cursos gratuitos a distância para todo esse público poder participar”, elenca.

Para Lauro Chaves, as principais medidas que vão ajudar o setor de restaurantes têm a ver com a vacinação. Ele destaca que somente com a imunização completa da população é que os restaurantes retomarão de fato suas atividades normais.

“Porém, até chegarmos a essa completa imunização, com certeza nós conseguiremos isso ao longo do próximo ano de 2022, o setor de restaurantes, até lá, vai precisar de uma forma bem mais agressiva e inovadora de abordar a situação. Você precisa customizar serviços, customizar produtos, fidelizar o seu cliente e, mais do que tudo, flexibilizar os horários de uso para que sejam adequados às normas vigentes”

Lauro Chaves Neto, assessor econômico da Fiec

O presidente da Abrasel concorda que a vacinação talvez seja  a única solução definitiva para a reestruturação do setor. “Mas ela não está acontecendo na velocidade em que a gente precisava. Eu acho que, para 2021, a única coisa que podemos sonhar é em sobreviver e manter aberto quem ainda não fechou. Crescimento ou qualquer recuperação só vai dar mesmo para pensar em 2022. Esse ano o cenário não é para recuperação”, aponta. Conforme Maia Júnior, o Comitê de Gerenciamento da crise tem analisado a situação dos bares e restaurantes do Estado.

“Nós só temos um caminho: gerenciar o problema, procurar aumentar o número de leitos, que é o que o Governo está fazendo, garantir suprimento de medicamentos e suporte à aplicação da vacina, trabalhar junto aos governos a entrega dessas vacinas para poder ir vacinando outros contingentes importantes da população, no sentido de conter essa disseminação do vírus. É preciso que a gente possa ter medidas importantes para dissipar rapidamente a contaminação, consequentemente, diminuindo a ocupação dos hospitais e, consequentemente, procurando retomar as atividades econômicas na sua totalidade”

Maia Júnior, secretário da Sedet
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