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Investimento em startups: o que você precisa saber antes de aplicar o seu dinheiro

Entre 2015 e 2019, o número de startups no país mais que triplicou, passando de 4.151 para 12.727 - um salto de 207%, - segundo a Abstartups. FOTO: Adobe Stock

O termo startup foi importado do inglês, mas logo passou a ser bastante utilizado na língua portuguesa. De seis anos para cá, a palavra ganhou fama no mercado brasileiro por conta do grande número de empresas com ideias inovadoras, de base tecnológica, que têm crescido de forma rápida e escalonável, sem inflar custos, registrando retornos financeiros que chegam em média a seis vezes o valor investido. Um diferencial e tanto em relação às empresas tradicionais, especialmente para quem enxerga no médio e longo prazo a chance de multiplicar exponencialmente seus investimentos

Investir em startups é uma onda que está só começando. E ainda há muito espaço para aumentar. Surge como uma boa alternativa a fim de diversificar as aplicações na busca por ganhos maiores. Não é à toa que entre 2015 e 2019, o número de startups no país mais que triplicou, passando de 4.151 para 12.727 – um salto de 207%, – segundo a Associação Brasileira de Startups (Abstartups). 

Este salto coloca o Brasil na lista dos 20 principais países em um ranking mundial de ecossistemas de startups. O país figura agora na elite mundial desse ambiente de negócios, de acordo com o levantamento da empresa StartupBlink, que leva em conta a quantidade e qualidade de startups, as instituições de apoio e o ecossistema de inovação como um todo.

O que justifica, ainda, o recorde registrado no volume de investimentos em 2019. Segundo estudo da consultoria em inovação Distrito, as startups brasileiras receberam US$ 2,7 bilhões em aportes no ano passado. Um crescimento de 80% na comparação com 2018, quando o total foi de US$ 1,5 bilhão. 

Neste cenário, o grupo japonês SoftBank surgiu como peça fundamental desse crescimento. Uma prova a mais de que a atenção dos investidores estrangeiros também está voltada para a pujança do ambiente de negócios de inovação que se instalou no Brasil.


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De acordo com Abstartups, decididamente as startups viraram o jogo. Hoje, elas estão cada vez mais presentes no nosso dia a dia. Sobretudo nos smartphones, via aplicativos. Sempre à mão, esses negócios inovadores estão revolucionando os hábitos de consumo de bens e serviços, gerando lucros e atraindo quem dispõe de recursos para investir e espera descobrir empresas com o potencial de crescimento a exemplo do Uber, Netflix, Spotify ou iFood, de olho em retornos financeiros antes inimagináveis.

Cenário das startups no Ceará

Nesse contexto, “o Ceará vem despontando e fervilhando com o movimento de startups”, afirma Delano Macedo, que é conselheiro do NINNA, um dos principais hubs de inovação do Nordeste, e sócio da Parallax Ventures, operadora brasileira de fundos de capital de risco dedicado a investimentos em estágio inicial.

“Tivemos recentemente no Ceará um caso de sucesso que foi a venda da AgendaEdu para a Eleva, sendo um dos primeiros grandes casos do Estado. Além disso, o Ceará possui startups de grande renome como a Mobills e a HubLocal, recentemente aprovada no Cubo. Crescendo exponencialmente temos a ChatbotMaker, que conseguiu durante a pandemia mais que quadruplicar sua base de clientes. Assim como a TotalCross, startup cearense já internacionalizada e premiada”, comemora Macedo. 

Ao mesmo tempo, expõe o executivo, existem programas que vêm fomentando o surgimento de iniciativas e profissionalizando cada vez mais o setor, possibilitando com que ele se desenvolva. “São programas como o Corredores Digitais, da Secitece (Secretaria de Ciência, Tecnologia e Educação Superior), o StartupCE, do Sebrae Ceará, e até mesmo o Programa EDU (Empreendedor Digital Universitário) do NINNA Hub em parceria com o CEMP-UFC (Centro de Empreendedorismo da Universidade Federal do Ceará)”, fala.

“Destaco também o programa Germinar, do Grupo M. Dias Branco, que tem incentivado muito o potencial que temos no Ceará”, emenda Lucas Barreto, sócio da BM Advogados, escritório cearense de advocacia especializado em startups e que assessora, atualmente, grandes nomes do cenário estadual.

De acordo com ele, existe também um calendário de eventos fomentados principalmente pelo ecossistema cearense de startups Rapadura Valley, de Fortaleza. “O Rapadura Valley ganhou o prêmio de Comunidade Revelação em 2019 no Case, evento promovido pela Abstartups, e agora em 2020 está concorrendo ao prêmio de Comunidade do ano”, lembra Strauss Nassar, sócio da Cordel Ventures, aceleradora cearense de startups.

“Fortaleza, até pela sua localização estratégica em relação à Europa e aos Estados Unidos, é uma cidade que tem avançado muito para quem quer investir. Existem profissionais especializados no mercado, seja na parte jurídica para inovação e investimentos em startups, marketing, gestão e finanças”, afirma Barreto. Ao mesmo tempo, ele diz que não podemos esquecer os ecossistemas do interior do Ceará, como o Cariri Valley e os polos de inovação tecnológica em Sobral e Quixadá.

“Tudo isso está criando um terreno fértil e com grande possibilidade de tornar o Ceará atrativo para investidores aportarem recursos nas startups locais. Fazendo o nosso estado prosperar e conseguir posicionar-se na vanguarda nacional nesse novo modelo mais digital, rápido e de grandes resultados”.

Delano Macedo, conselheiro do NINNA e sócio da Parallax Ventures

Atualmente, as áreas de educação e saúde são as que têm maior número de startups no Ceará.

Investimento em startups

Para Lucas Barreto, da BM Advogados, o investimento em startups configura-se como uma alternativa muito interessante tanto para pessoas físicas como jurídicas. E as startups brasileiras estão cada vez mais na mira dos investidores, pelas soluções inovadoras e pelo atual cenário econômico de juros baixos que estimulam investimento de risco na expectativa de ganhos maiores.

“Hoje, principalmente com a queda das taxas de juros vinculadas a vários outros tipos de investimentos ficou mais difícil rentabilizar o seu dinheiro. Porém, com as startups, temos a possibilidade de, às vezes, ganhar cinco, seis, dez vezes mais do que o valor investido”, justifica.

No entanto, ele lembra que esses ganhos não ocorrem do dia para a noite. “Muitas vezes, acontece com um prazo mais longo, de quatro, cinco, seis anos ou mais. É um investimento de longo prazo”, afirma.

Além do que, é o tipo de investimento que envolve várias etapas, chama a atenção Mário Alves, do ecossistema cearense de startups Rapadura Valley e consultor da Indigital.lab, consultoria em transformação digital focada em facilitar a comunicação entre desenvolvedores, designers, marketing e a diretoria executiva de projetos de diversos tamanhos.

“É um processo que pode levar meses e requer contratos, negociações e definições de valores que variam de acordo com o grau de maturidade e a área da startup. É uma alternativa interessante para quem busca investir em médio e longo prazo com risco médio para alto”.

Mário Alves, consultor da Indigital.lab

Já no que corresponde aos valores investidos, ele fala que estes costumam ser na casa dos seis dígitos (acima de R$ 100 mil), embora existam possibilidades de investimento coletivo com aportes inferiores a R$ 10 mil por investidor.

Mas antes de sair por aí aplicando o dinheiro, orienta Alves, quem pretende investir em uma ou mais startups precisa ter respostas para algumas questões chaves como: quanto investir, em que área ou setor, qual o nível de maturidade da empresa que deseja apoiar, em quanto tempo gostaria de ver retorno, qual o retorno esperado, quantas startups farão parte do portfólio de investimento e o que procura a nível de time executivo, ou seja, características, histórico de sucesso etc.

Depois de respondidas estas questões, relata, é que começa a busca pelas startups, o que pode envolver incubadoras, aceleradoras, coworkings, escritórios de advocacia especializados, mentores e outros investidores. “É um processo complexo que pode envolver de duas a mais de 30 pessoas para chegar a um acordo que faça sentido para ambas as partes”, afirma.

Outro ponto fundamental, acrescenta Barreto, é ter conhecimento sobre valoração econômica de empresas. “Isso é muito interessante para que o investidor não seja ludibriado por um negócio que parece muito bom, mas que ao investigar os números e o que tem por trás do negócio muitas vezes aquele valor não corresponde à realidade”, diz.

Assim como é muito importante o networking, criar uma teia de relacionamento com os empreendedores antes de apostar em um negócio de inovação.

“É conversar, dialogar com esses empreendedores. Não ter medo de marcar reuniões, de falar sobre suas propostas, de entender mais sobre os empreendedores. O networking é extremamente importante para que o investidor saiba o momento certo de investir, com quem ele deve investir ou para quem ele deve entregar o seu dinheiro, o seu investimento”.

Lucas Barreto, sócio da BM Advogados

Ao mesmo tempo, lembra Strauss Nassar, da Cordel Ventures, “é interessante o investidor compreender que a startup prioritariamente visa o smart money, ou seja, não apenas o dinheiro em si, mas um investidor com abertura de mercado ou possibilidade de agregar ao negócio, que gere a aceleração”.

Retorno e grau de risco

“Quando falamos de startups, falamos de risco”, pontua Delano Macedo, conselheiro do NINNA. “Mas não se deve levar somente para a conotação negativa de perda, pois o risco é para ambos os lados, de ganho e de perda. Startups são modelos complexos e que levam um certo tempo para que os resultados possam ser vistos e os frutos serem colhidos, tudo dependerá de vários fatores”, explica.

Dessa forma, é preciso conhecer o mercado, avaliar qual o modelo de investimento que mais se adequa ao perfil do investidor e, caso não seja um investidor individual, saber interpretar as teses de investimento do parceiro buscado para viabilizar a aplicação do dinheiro e, claro, levar em consideração a disponibilidade financeira.

De acordo com Strauss Nassar, da Cordel Ventures, o investimento em startups pode se dar por fase da empresa ou por modalidade. “Em suma, é importante que o investidor entenda como o mercado funciona e o risco do negócio, não entrando com mais do que 10% do seu patrimônio líquido. Apesar do elevado risco, uma vez com conhecimento de mercado ou com boa assessoria, o investimento é incomparável com os de mercado, ultrapassando as expectativas em relação a outras modalidades de investimentos pela escala e pela possibilidade de rápido crescimento”, afirma.

Mário Alves, do Rapadura Valley, chega a dizer que o investimento em startups “é recomendado para pessoas com estômago para lidar com os altos e baixos do mercado, problemas entre sócios e as dificuldades de desenvolvimento do produto ou serviço”.

Contudo, o risco elevado, concordam os especialistas, é compensado com um retorno muito grande. “De cinco, seis ou mesmo dez vezes o valor investido. Apesar da insegurança de um lado, por outro, o investimento em startups é atrativo por essa rentabilidade muito maior”, conclui Lucas Barreto, da BM Advogados.

Modalidades de aporte

Segundo Delano Macedo, a cada ano, novas formas de investimento em startups vêm surgindo. Porém, cada um deles possui sua complexidade e nível necessário de conhecimento. Os modelos mais comuns são o Equity Crowdfunding, Aceleradora, Investimento Anjo, Investimento Semente (Seed Money) e de Séries.

O primeiro, explica, é um formato de “financiamento coletivo”, onde investidores que possuem menor capacidade financeira (valores iniciais a partir de mil reais) podem iniciar sua jornada de investimento. “Para esse tipo de aporte, o investidor geralmente tem duas opções: receber um equity (percentual de participação societária na startup) ou então receber títulos conversíveis de dívida, os quais podem ser convertidos em participação societária (equity) no futuro.

Já a Aceleradora, é o que se pode chamar de um modelo mais atual de incubadora. Sua função é a de dar acessos (financeiro, de conhecimento e networking, basicamente) às startups, para que elas possam prosperar. “Com a soma desses três elementos básicos, podendo haver outros, é definido um valor total, que será considerado o investimento quando da entrada de uma startup para aceleração”, explica.

Conforme Macedo, a fim de viabilizar a questão financeira, as aceleradoras costumam captar recursos com investidores individuais, para que possam realizar um número maior de aportes sendo que geralmente os valores individuais aplicados ficam na casa de R$ 50 mil a R$ 100 mil.

Em seguida, vem o Investimento Anjo. Este pode ocorrer de duas formas: individual ou com outros investidores nesta categoria. “Investidores Anjo têm a característica de serem empreendedores com grande experiência, o que lhes garante um bom nível de conhecimento para que não somente aportem dinheiro na startup, mas também possam compartilhar conhecimentos e networking, visando a prosperidade do negócio, característica pela qual é chamado de Anjo e o valor de investimento individual varia entre R$ 50 mil e R$ 250 mil”, expõe.

O Investimento Semente, por sua vez, é o posterior ao Investimento Anjo, emenda Macedo, pois em se tratando de pessoa física exige um maior perfil financeiro, além de ser muito comum para Family Offices, ou seja, uma espécie de empresa de capital fechado que lida com gerenciamento de investimentos e de patrimônio de famílias ricas. 

“Os investidores sementes costumam estruturar fundos para poder realizar um número maior de aportes, visando reduzir seus riscos e ter maior retorno para os acertos realizados. Para esse nível de investimento os valores vão de R$ 500 mil a R$ 2 milhões”, conta.

Finalmente, temos o Investimento em Séries (A, B, C etc), que são os investimentos realizados por empresas especializadas em venture capital, ou capital de risco, que são extremamente profissionalizadas para esse tipo de investimento. 

“A variação – A, B, C etc. -, provém de cada rodada de investimentos que a startup recebeu. Por exemplo: se uma startup recebe seu primeiro aporte de uma venture capital, ela está na Série A. Dali para frente as próximas rodadas são a B, C, D, e assim por diante. Investimentos Séries A costumam estar na faixa de R$ 10 milhões; e os demais dependerão do nível que a startup se encontra”, explica Macedo.

Como formalizar a operação

A formalização do investimento é feita com base contratual, onde basicamente existem quatro tipos de contratos diferentes. “Contrato de Participação Direta nas empresas, Mútuo Conversível em Participação Societária, Opção de Compra de Cotas e Contrato de Participação ou Parceria”, relata Delano Macedo.

Por meio do Contrato de Participação Direta nas empresas, o investidor se torna sócio do negócio, sendo incluído no estatuto social da empresa e assumindo assim as responsabilidades e riscos do negócio, como participação em dívidas.

O Mútuo Conversível em Participação Societária, por sua vez, é um dos modelos mais utilizado pelos investidores. “Ele está previsto no Código Civil Brasileiro, no artigo 586. Esse tipo de contrato foi adaptado para uso das startups, onde o investidor empresta o dinheiro para a startup, optando por receber no futuro o valor investido com juros e correções ou podendo converter a dívida em participação acionária no negócio, além de amarrar outras regras que sejam especificidades de cada tese de investimento e mitigação de riscos”, explica Macedo.

Outro ponto importante desse tipo de contrato, acrescenta, é que ele exime o investidor de participar dos riscos do negócio, ou seja, não se torna responsável por eventuais dívidas ou outros problemas que o negócio possa ter, até que de fato a opção de conversão da dívida em cotas ou ações aconteça.


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Já o Contrato de Opção de Compra de Cotas difere da modalidade anterior, pois o aporte é feito no momento da assinatura do contrato. De acordo com o especialista, “na opção de compra o investidor adquire o direito de investir na startup, mas não a obrigação, em um momento futuro. Com esse contrato, o preço é estabelecido previamente, não sendo modificado por alterações no capital social ou por qualquer mudança de valoração que a startup venha a ter. Nesse contrato constam as regras e é comum que seja pago um prêmio para que possa ter essa opção de compra, sendo o mesmo pago no ato da assinatura”.

Existe ainda o Contrato de Participação ou Parceria. Ele tem como base a lei complementar 155 de 2016, surgindo para regulamentar o investimento em micros e pequenas empresas, para fomento da tecnologia e inovação no Brasil. 

“Esse tipo de contrato não é um dos mais atrativos para as startups, uma vez que ele simplesmente formaliza um formato de ‘empréstimo’, sendo assim um modelo interessante para quem simplesmente queira emprestar dinheiro às startups em condições diferenciadas e receber esse dinheiro com certo nível de juros. Além disso, o investidor é vetado de exercer funções dentro do negócio, não tendo direito algum a voto ou ser considerado como sócio. Acaba sendo um modelo não atrativo para o investidor e para a Startup. Porém, é uma possibilidade”, pontua Macedo.

Onde conhecer projetos para investir

Segundo Mário Alves, do ecossistema cearense de startups Rapadura Valley, um bom começo é buscar incubadoras, aceleradoras e coworkings que agreguem startups de acordo com a estratégia de investimento que se deseja. “Há também eventos e competições que agregam startups de diversos níveis e podem ser um bom local para conhecer novos projetos”, destaca.

Ao mesmo tempo, lembra Strauss Nassar, da Cordel Ventures, existem ainda os programas governamentais e privados de fomento a startups, que são um celeiro de grandes ideias, empreendedores e de times vocacionados ao sucesso. “Podemos destacar o Programa dos Corredores Digitais, da Secitece; o Programa Varal, da aceleradora Cordel Ventures; o Startup Weekend, evento internacional de ideação de startups; entre outros”, fala.

Há também várias plataformas que dão acesso a startups em busca de investimento e até fazem todo o intermédio legal para que ambas as partes tenham respaldo. “Como exemplo temos a CapTable, a Eqseed e a Startmeup”, cita Delano Macedo, conselheiro do NINNA.

“A Associação Brasileira de Startups, a Abstartups, também é muito interessante, pois possui um arquivo, um banco de dados muito rico com empresas de inovação do país todo”, emenda Lucas Barreto da BM Advogados.

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