TrendsCE

Indústria de calçados no Ceará mantém competitividade

A indústria calçadista do Ceará está na segunda posição no setor no País em produção. FOTO: Rayane Maiara

É sabido que a pandemia da Covid-19 afetou todas as atividades econômicas mundiais em maior ou menor grau, num alinhamento de crise para todos. É bem verdade, entretanto, que sairão em melhores condições e mais rapidamente aqueles que inovarem e/ou oferecerem diferenciais. Com este olhar – e um conjunto de incentivos de atração de investimentos – a economia do Ceará entra firme na retomada. É o que busca a indústria calçadista local que procura manter os benefícios de um mercado afastado do centro do País e que, mesmo assim, alcançou a segunda posição no setor no País em produção.

O presidente do Sindicato das Indústrias de Calçados de Fortaleza (Sindcalf), Jaime Bellicanta, entende que a volta à atividade neste “novo normal” não acontecerá antes de seis meses. Com a experiência de quem acompanha a realidade através de entidades como a Abicalçados, representante nacional máxima do segmento, a Federação das Indústrias do Ceará (FIEC) e o Centro das Indústrias do Rio Grande do Sul (Ciergs), o gaúcho que fez carreira na Grendene e acompanhou sua instalação no Ceará desde 1990 sabe que a diferença em termos de competitividade vem de um bem articulado conjunto de atrativos.


Quer receber os conteúdos da TrendsCE no seu smartphone?
Acesse o nosso Whatsapp e dê um oi para a gente.


A abundância de mão-de-obra local com necessidade de treinamento relativamente simples e a proximidade geográfica deste recurso essencial, o que dispensa as despesas com transporte, são vantagens para quem quer empreender no Estado. Afinal, trata-se de uma indústria que apesar do avanço tecnológico ainda é intensiva de mão-de-obra.
Segundo maior pólo de calçados do Brasil, depois do Rio Grande do Sul, o setor calçadista instalado no Ceará, capitaneado por marcas como Vulcabrás, Grendene, Dakota e Grupo Dass, é um dos maiores empregadores do Estado.

Dados da Abicalçados registram que com a pandemia a indústria calçadista nacional eliminou 35 mil empregos (13% das 269 mil pessoas até então empregadas). No Ceará foram perdidos 1.623 postos de trabalho deste total. O presidente executivo da Associação, Haroldo Ferreira, atribui o desemprego menor ao porte médio e grande das fabricantes locais que abastecem o mercado interno e também exportam, o que pode antecipar a recuperação.

Os calçados fabricados no Ceará respondem pela segunda maior exportação estadual com uma participação de 10%, perdendo apenas para o segmento de ferro e aço que representa 53% da pauta exportadora cearense.

Incentivos

Além dos recursos humanos, outro fator que pesa na hora da decisão sobre investimentos ou ampliações dos negócios é a carga tributária menor. Este tem sido o grande divisor de águas, pelo menos enquanto nada acontece sobre a tão esperada reforma tributária federal que, entre outras alterações, busca o equilíbrio fiscal entre os estados.

Emílio Moraes, que atua como diretor do Sindcalf na área de Relações Governamentais e Institucionais, lembra que não basta mais a localização privilegiada para o alcance mais facilitado de terceiros mercados internacionais tanto para o embarque de mercadorias ao exterior, como para a importação de insumos para a produção local.

O especialista em atração de investimentos opera com as moedas efetivas disponibilizadas pelo governo através de um conjunto de programas como o Programa de Incentivo ao Desenvolvimento Industrial ou o Programa de Atração de Empreendimentos Estratégicos, dentre outros. O benefício mais visível tem sido o ICMS, cuja tarifa pode ser reduzida em 75% estendendo também para 36 meses o prazo de recolhimento do imposto.

Trata-se de uma equação variável dependendo do volume da contrapartida do empreendimento em valor do investimento, geração de empregos, distância da capital e repercussão em termos de responsabilidade social e cultural. Além de terreno e pavilhões, as empresas – não apenas as calçadistas – também podem contar com o crédito facilitado do Banco do Nordeste do Brasil (BNB). São incentivos estaduais que se somam aos federais num sistema que se retroalimenta transformando o lindo cartão postal num respeitável pólo de progresso.

O setor no mundo e no Brasil

A atividade calçadista mundial vinha de um 2018 de alta em todos os indicadores (produção, exportação, importação e consumo mundial em pares). Cresceu em 2019, ainda que timidamente, e foi surpreendida pelo coronavírus em 2020, o que levou a World Footwear a projetar uma queda superior a 20% no consumo mundial do produto, ficando em 15,7 bilhões de pares, distante, portanto, dos 20,2 bilhões do ano anterior.

Na mesma batida, mesmo sendo o quarto maior na produção mundial com 908 milhões de pares produzidos em 2019, o Brasil detém menos de 5% de participação do mercado global, o que sinaliza um enorme potencial de crescimento a ser conquistado. Nas primeiras colocações deste ranking estão os asiáticos liderados pela China, seguida da Índia e Vietnã. Na sequência, após o Brasil, vem a Indonésia, Nigéria, México, Tailândia, Itália e Paquistão. Na ponta do consumo estão, pela ordem, China, Índia e EUA. O Brasil também é quarto em consumo no mundo.

Uma referência de quem acreditou

A Grendene é uma das empresas que apostou no mercado cearense desde 1990, quando instalou a primeira fábrica em Fortaleza. Três anos depois expandiu para Sobral e em 1997 se instalou em Crato. Fundada em 1971, é uma das maiores produtoras mundiais de calçados para os públicos feminino, masculino e infantil.

Sair da versão mobile